sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Passeio Monótono por Curitiba

Passando pela Praça da Universidade, um grupo com tambores de um toque forte e pesado, um toque legitimamente africano, emocionante, contagiante. Jovens dançam e se divertem, riem, brincam como crianças, sob o céu escuro e gelado, das mais frias noites de inverno da terra do Vampiro e da Polaquinha.

Passos adiante, um estranho círculo que se forma, um estranho ressoar que lembra salas de concertos e shows de música pop. O rapaz com cara de roqueiro e roupas de músico de orquestra, dedilha em sua guitarra elétrica algumas das mais belas composições da música popular e erudita do Brasil e do mundo.

Sigo em frente, pois que outra roda de capoeira está a formar-se em meio a este calçadão. Nesse mesmo lugar, horas atrás, estava eu a admirar as flautas chilenas, tocadas tão habilmente por aqueles companheiros de luta do magnífico Viento Sur. Ainda não sou capaz de ouvi-los tocar Cio da Terra sem chorar.

A noite está fria. A não ser que eu fosse capaz de acompanhar aqueles amigos argentinos no magnífico show de malabares que nos apresentam, preciso de um conhaque para aquecer o corpo e a alma. E eu não sei nada de malabares.

Cadê o bar? Já sei. Sigo pelo mesmo caminho por onde vim. Impossível não parar para ouvir mais um pouco aqueles maravilhosos tambores e atabaques. Ah, preciso apurar o passo senão acabo fazendo fiasco por aqui, tentando dançar, arte que não é minha.

Ah, o bar. Entro e vou logo reparando que a luz está mais fraca que o habitual, bem como a música está mais alta. “Jamal”, grito eu ao dono do bar, que me faz sinal de “depois”. Sim, eu espero. Mas nisso me esqueço do mesmo e só tenho olhos para a belíssima dançarina do ventre que com sua espada abre caminho entre a saliva despejada por tantas bocas abertas. E ela se deixa envolver pela música, nos deixa envolvidos por seus passos e ritmos. Ao menos eu estava, não sei se os outros estavam da mesma forma exatamente pelo ritmo, pela performance, ou pela forma da moça.

Enfim, música e dança, belíssima dança que nessas paragens tem o toque adicional da ginga que encanta e seduz, tanto quanto a sedução daquela dança tão sensual e magnífica. E o meu conhaque? Ah, lá vem ele. Mas aqui está muito lotado e não estou disposto a passar a noite no balcão. Outro lugar, afinal, meu conhaque já foi, a dança já foi.

Ah, outro bar, onde com certeza haverá mesa. Pra lá eu vou.

Que estranho som é esse? Será que errei de lugar e adentrei a uma sala de concertos? Não, numa sala de concertos não haveriam tantas vozes falando paralelamente à música. Ah, aqui é realmente o bar. Mas e o som, não me parece mecânico.

“Aquela mesa ali senhor”. Sento-me. E é da mesa logo ao lado, uns dois ou três metros de distância, que vem o som de uma pequena miniatura de teclado, acompanhado pelas vozes de cantoras e cantores da ópera que está para estrear daqui a dois dias no magnífico teatro daqui vizinho. Ah, belas canções entoadas por tão belas vozes. Quisera eu ter a capacidade do mesmo. Mas tenho o prazer de vê-los cantar, relaxados e sem pressão, sem nada pagar. Ah, isso realmente não tem preço mesmo.

Duas cervejas ao som de tenores e sopranos, de baixos e barítonos, é algo magnífico. Mas preciso ir embora, pois amanhã acordo cedo. Mas em apenas duas cervejas minha mesa fica repleta de convites para peças de teatro, performances artísticas, shows, recitais, exposições e todo o tipo de evento que se possa imaginar. Tudo para hoje e amanhã. É tentador, mas preciso ir embora.

Ah, o velho mural que tantas vezes me causou atrasos no trabalho. Impossível passar por ele sem encontrar nenhum cartaz de alguma programação irresistível, preciso passar sem olhar.

Sabia que não conseguiria evitar. Olhei e, mesmo de relance, vi duas peças de teatro começando a meia noite, irresistíveis, mais três shows imperdíveis. Mas vou resistir e vou embora.

Toca o telefone:

- Pronto.
- Daí cara, qual a boa de hoje?
- Olha, pra mim a boa é a minha cama, pois preciso acordar cedo amanhã.
- Ô, vai deixar os amigos na mão assim? Estamos aqui, eu, um camarada e três amigas. Mas precisávamos de você, pois ta difícil de encontrar alguma coisa interessante para fazer. Essa cidade não tem nada hoje, ta tudo parado.
- Pois é, mas eu não posso. Se você não está vendo nada interessante para fazer, vá aos clássicos, eles sempre resolvem.
- Então ta. Até mais.
- Até.

Volto, olho novamente para os convites em minha mesa, o mural, lembro de todos os lugares pelos quais passei naquela noite e penso: “Nada para fazer? Cidade parada? Isso é que é poder ser exigente.”.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Esperança e Dor

.................... Em nossa triste vida
............. Esperança que morre
....... É a dor mais sentida

domingo, 19 de agosto de 2007

Porque me Revolto

Noutro dia, em meio a uma conversa sobre política, numa mesa de bar à beira da calçada, eu apresentava um pouco de minha indignação a alguns amigos e conhecidos dos mais despolitizados que tenho.

Claro, não demorou a surgir aquele a dizer “taí o radical. Não liguem, ele é assim mesmo.”.

“Sim”, eu respondi, sou assim porque vejo as coisas a minha volta.

Também não demorou a surgir aquele a perguntar “nossa, mas por que você é revoltado desse jeito?.

Olhei para os lados e logo avistei na calçada aquele senhor, uns 50 anos ou mais, o corpo bastante minguado, rosto sofrido, pouca saúde, com sua senhora ao lado lhe ajudando com o peso do carrinho de papel. Dentro do carrinho, aquela criança de não mais do que uns 4 anos ,roupas sujas, comendo uma banana que nitidamente havia sido jogada no lixo por algum morador daqueles prédios da região central, apenas por estar madura demais. Evidente, não resisti:

- Aquilo. É aquilo que me causa revolta.

- O que? Aquele vagabundo?

- Vagabundo é você! Quero ver você por mais de doze horas puxando aquele carrinho com dezenas de quilos de papel, procurando seu sustento no lixo, seu safado!

- Calma, foi força de expressão! Mas ele está conseguindo o seu. Você queria o que?

- E aquela criança ali dentro do carrinho?

Antes de fazer essa pergunta, eu pensei nas possibilidades lógicas: “ah, essa criança devia estar em casa. E a essa hora, devia estar brincando e preparando-se para dormir.”. Mas se ela estivesse em casa, sendo que os pais precisavam estar na rua, garantindo o sustento da casa, não tardariam a falar que aqueles pais eram irresponsáveis, que estavam a abandonar a pobre criança, produzindo o típico marginal no futuro. E não tardariam a chamar por um conselho tutelar, a buscar por tirar daqueles pais a guarda de seu filho tão amado.

Outra possibilidade: ah, ele devia pensar mais em sua família, em seu filho. Devia arrumar um emprego, colocar a criança numa creche e a essa hora estar em casa cuidando de sua família”. Mas vaga em creche é fácil assim? E emprego, é fácil? Esse homem, procurando emprego, sem qualificação, que emprego poderia arrumar? Imaginem ele buscando emprego, sem qualificação, com essa expressão desgastada pelo tempo e pelo sofrimento. E com que roupas ele haveria de buscar emprego? Daí, enquanto ele procura em vão pela vaga de emprego tão sonhada, o que sua família haveria de comer? Onde eles poderiam morar?

Mas não, a resposta que ouvi eu não poderia imaginar. Foi mais escrota que minhas idéias mais loucas sobre a mesquinhez humana:

- Ah, ele devia ter pensado melhor antes de sair fazendo filho por aí.

- Seu puto! Então pra você um pobre miserável sequer tem direito a sexo ou a ter filhos! É com isso que eu me revolto! Desgraçado!

Levantei-me, paguei minha conta e fui embora.

Preciso me lembrar que não é apenas pela condição dessa gente que eu me revolto, mas pela estupidez daqueles que fazem com que essa gente continue na mesma condição, com sua burrice e ignorância a perpetuar a miséria e a opressão.

sábado, 18 de agosto de 2007

O Fim de Mim

“A esperança é a última que morre”
Então a sua morte, significa o fim de tudo
Se não mais há esperança, tudo está perdido
E perdido segue-se para lugar algum

“Meu caminho eu mesmo faço”, dizia eu
Doce ilusão que se acaba
Num momento único, realidade desnudada
Esperança arrancada a ferro e fogo

E agora, o que fazer?
Sobreviver dia após dia
Sem sentido, sem esperança, sem nada

A vida segue seu rumo
Envolta em sombras
Inundada de lágrimas
À deriva em densa escuridão

De alegrias me lembro, infelizmente
Pois se a lembrança perdesse
Ao menos da saudade livrar-me-ia

E agora, o que fazer?
Sobreviver dia após dia
Sem sentido, sem esperança, sem nada

De passo em passo eu vou
Sem objetivos
Sem sonhos
Sem ilusões

Despeço-me de tudo
Tudo quanto desejei
Tudo quanto esperei
Tudo em que acreditei

E agora, o que fazer?
Sobreviver dia após dia
Sem sentido, sem esperança, sem nada

Não se apiedem de mim
Eu mesmo não o faço
Pelo contrário: o ódio
Pela incompetência e incapacidade

“Imbecil, burro, idiota, incapaz”: digam-me
Nada além disso
Apenas um imbecil que se acreditou alguém
Acordei. E hoje, fracassado em tudo, me sei um nada

E agora, o que fazer?
Sobreviver dia após dia
Sem sentido, sem esperança, sem nada

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

O "Cansei" e o Fascismo Impregnado na Alma Elitista Tupiniquim

A mais pura expressão da alma do "Cansei" não poderia ficar fora da campanha.


Se vivo fosse, indubitavelmente, o companheiro de luta dessa gente, Pinochet, ainda que de cadeira de rodas, estaria entre os 50 de Curitiba, os 2 mil de São Paulo, ou dobraria a quantidade de manifestantes em Fortaleza, chegando a 2.

Os gritos de "acorda, acorda!" dos mais fiéis representantes das viúvas da ditadura, hoje cansados da democracia, ainda que burguesa, não deixam dúvida quanto ao caráter do movimento.

E alguns inocentes úteis, deslumbrados com a participação e o chamamento de seus ídolos televisivos ou da música, sem sequer saber do conteúdo do que está sendo falado, repetem as asneiras, como papagaios, embalados por um sentimento de indignação construído artificialmente por uma típica campanha midiática de venda de idéias.

A indignação seria legítima, desde que vinculada a realidade, ao que é a condição das maiorias numéricas, minorias econômicas, que tanto têm para indignar-se.

Mas os grupos do topo da pirâmide econômica, tendo como bucha de canhão os seus asseclas das classes remediadas que sonham com a ascenção que nunca chegará, têm o controle da mídia, têm a capacidade de monopolizar o noticiário.

Infelizmente para eles, felizmente para nós, esqueceram de combinar o roteiro com o povo. E os números e as táticas não nos deixam mentir.

Incapacidade de Mobilização e as Desculpas Esfarrapadas do “Cansei”

Depois do fiasco das primeiras mobilizações de rua, reunindo menos de 2 mil sem São Paulo, uma em Fortaleza, menos de 50 em Curitiba e por aí afora, os ricos proprietários do “Cansei” desistem de mobilizações de rua.

Foi uma intensa campanha de mídia e com vastos recursos, na tentativa de mobilizar um contingente de típicos cidadãos de classe média como “massa de manobra”. Artistas, comerciais de televisão, cobertura intensiva da mídia. Tudo isso envolvido num discurso despolitizado e alienante, negando a própria proposta do movimento, de trazer o país para uma típica agenda conservadora nos costumes e ultra-liberal na economia, nos moldes da extrema direita mais tradicional e fundamentalista.

O “Fora Lula”, a retomada das privatizações, redução dos serviços públicos e redução extrema dos impostos sobre o setor empresarial e especulativo são as bases do movimento, sem deixar de lado, é claro, questões como o fim das regulamentações e garantias legais dos trabalhadores com a flexibilização dos direitos trabalhistas.

Agora, intensifica-se a atuação da campanha de mídia por meio de celebridades. Ivete Sangalo, Hebe Camargo e a Regininha “Medinho” Duarte, dentre outros, são as estrelas da vez, com o intuito de tentar arrastar fãs, no mesmo padrão com que vão às portas de hotéis em histeria coletiva, às demonstrações de apoio às causas que não são deles.

Entretanto, o movimento que nasceu do oportunismo descarado, cujo discurso base foi desfeito já no nascedouro, recusa-se a incorporar uma mínima agenda popular alternativa, mantendo-se no padrão das exigências elitistas, ampliando, no máximo, aos anseios típicos de uma classe média alta provinciana.

Não custa lembrar que a motivação, a justificativa básica da criação do movimento encontra-se no trágico acidente aéreo com o avião da TAM, num discurso que imputava ao governo a culpa, a responsabilidade pelo mesmo. Mas antes de qualquer ação do movimento, tal justificativa caiu por terra, tendo a comprovação de que as razões do desastre fugiam completamente a alçada estatal.

Certo, Lula faz um governo trágico, mas não para esses membros da elite branca paulistana com sócios minoritários por todo o território nacional, pois que estão lucrando como nunca. Faz um governo trágico para as camadas populares que acreditaram no engodo de que esse governo iria trabalhar a mudança da vida dos menos favorecidos, dos explorados e oprimidos.

Daí que é justa qualquer mobilização contra a política desse governo, mas pelo lado e pelas razões exatamente opostas àquelas apresentadas por esse movimento de caráter extremamente reacionário e anti-popular. Seria justo, por exemplo, contra a reforma da previdência, contra a flexibilização de direitos trabalhistas, contra a política monetarista que condena tantos a fome e ao desemprego, contra o arroxo salarial do funcionalismo, por uma reforma agrária efetiva, por uma reforma urbana, dentre tantos outros pontos.

Mas o movimento nascido nos melhores salões da aristocracia paulistana não vê essa realidade popular pelas janelas de seus carros blindados. E não têm o menor interesse em ver tais temas tomando conta do noticiário nacional, pelo contrário.

Assim, sem qualquer apelo de massas, sem qualquer concessão popular, os patrões de sempre, vêm seu movimento naufragar, sem capacidade para reunir sequer o público de uma partida de futebol entre a Portuguesa e o XV de Piracicaba, ainda que somadas as mobilizações de todo o Brasil.

Diante de tal cruel realidade para nossos compatriotas que só falam de brasileiros em terceira pessoa, nada mais resta do que abandonar o discurso de mobilização de rua, partindo para a política do movimento cívico silencioso.

Ora, agora qualquer um que esteja em silêncio na data e hora determinadas arbitrariamente pelos patrões de sempre, por determinação interpretativa deles, estará aderindo ao movimento.

Num contorcionismo retórico digno dos mais inférteis debates sobre as glórias de clubes de futebol, nossos heróicos representantes da elite branca paulistana vêm a pôr-se em defensiva formal, dizendo-se avessos ao confronto e dispostos a abrir mão da sua imensurável capacidade de mobilização em defesa da não agressão.

A manifestação, mais um fracasso anunciado, de 17 de setembro, marcada para o local do acidente com o avião da TAM (a manifestação não pretendia nem citar a TAM como responsável por nada), mudou de endereço para a Praça da Sé. Não satisfeitos, pois continuaram sem vislumbrar qualquer possibilidade de empolgar as grandes massas com o discurso de defesa do direito de ser elite, mudaram novamente o foco da mobilização, que nem mobilização é mais.

Missa, essa é a solução dos nossos cansados, pois que não cabem muitas pessoas no interior da igreja, assim já está justificado o número reduzido de participantes no local. Mas claro que no discurso, todos os demais 130 milhões de brasileiros que devem estar em silêncio naquele exato minuto, só podem estar a aderir ao movimento.

Claro, a desculpa pronta não pára por aí, posto que no caso de sequer lotar a igreja, já se tem a desculpa também, pois que a religiosidade tão decantada do povo brasileiro, anda combalida nos últimos tempos, com franca desmobilização dos fiéis católicos. Pronto, se não lotar é culpa do Lula também, que por meio da deterioração moral imposta à sociedade afasta tantos brasileiros da religião, da moral e dos bons costumes.

Nos parece, até o momento, que a tentativa de reação de parte da elite branca paulistana, arrazoada mais no preconceito social e racial do que na realidade, posto que a maior parte dos setores da elite lucram como nunca, não terá capacidade para o mesmo êxito das “Marchas com Deus Pela Família e Pela Liberdade”, que deram a senha para o golpe militar de 1964.

Para a sorte de nosso povo, apesar de termos um governo de origens populares que nos traiu, temos uma elite cuja parcela mais conservadora e preconceituosa ainda é muito incompetente para por em prática seus planos golpistas e ditatoriais.

Para a nossa sorte, pois nossa capacidade de reação contra a opressão ainda deixa muito a desejar.

Preparemos-nos para o amanhã, pois que a incompetência desses endinheirados e dos papagaios dos patrões pode não durar para sempre.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O Fim dos Problemas dos Brasileiros

A vida segue tranqüila, sem sobressaltos, sem atropelos, sem entraves, pois que todos os problemas foram resumidos.

O preço da carne, do feijão, do aluguel, nada mais importa. Nem o desempregado, a quem as portas mantêm-se fechadas, a falta do alimento ao fim do dia segue como problema, pois que a vida segue tranqüila, sem entraves ou sobressaltos.

Se no posto de saúde faltam os médicos, os medicamentos, não te preocupes, pois que a vida segue tranqüila e serena, a falta não importa, pois que os problemas de sua vida foram resumidos.

Se a moradia já não te é garantida, nem seus filhos podem ir à escola, segue em paz, meu nobre, pois que isso não mais é problema. Seus problemas, os de sua vida, já tem solução à vista, pois que a vida segue tranqüila, sem sobressaltos ou entraves.

Tudo, todos os problemas da vida dos brasileiros, se resumem a crise no setor aéreo, ao cansaço da classe média alta com o governo e os negócios duvidosos do presidente do Senado.

Se houve reforma da previdência e você provavelmente morrerá antes de se aposentar, não se preocupe, pois a OAB/SP, junto com o organizador da caminhada dos cãezinhos de Campos do Jordão, estão imbuídos em garantir o “caviar deles de cada dia”, pois sem caviar não dá pra viver.

Se os acidentes pela falta de conservação das estradas matam mais de dez mil pessoas ao ano, não se preocupe, pois as condições dos 8% da população que viaja de avião já está sendo resolvida, graças a pressão da mídia, devendo acabar com os atrasos trágicos em breve.

Se os serviços públicos de que você depende estão sucateados, não correspondem ao nível de impostos cobrados e não atendem às suas necessidades, não se preocupem, pois com grande cobertura da mídia, os honrados representantes da elite branca paulistana estão na mais heróica luta pela redução da carga tributária, pois que é absurdo que uma garrafa de vinho que poderia custar U$4.000,00, chegue a custar mais de U$6.000,00 nos restaurantes básicos que nossa heróica elite freqüenta.

Não se preocupe mais com coisas pequenas, menores. Tudo será resolvido por aqueles que nesses mais de 500 anos sempre garantiram nosso bem estar, que injustamente têm tido dificuldades em ampliar rapidamente o seu acúmulo de ganhos, ao menos na quantidade com que eles sonham.

Não, não precisa se preocupar mais em tentar buscar melhorias no salário mínimo, pois que reduzindo os impostos, reduzindo o tamanho do Estado com o fim de diversos serviços públicos, o seu direito à livre iniciativa será mais que respeitado, com a geração de novas e infindáveis oportunidades. Bastará que você tome vergonha na cara, comece a economizar uma parte considerável dos R$380,00 que você recebe por mês, que terá dinheiro para investir, quem sabe até em títulos públicos, com os juros que tanto beneficiam os investimentos de 40.000 investidores dentre os nossos mais dignos representantes das altas classes.

Agora sim, com a reedição aperfeiçoada da mobilização da elite e da direita, emoldurada pelas brumas de um escândalo político no Congresso, o país poderá libertar os seus mais nobres das amarras de ter que sustentar aqueles que apenas deveriam servir de capachos aos que realmente merecem estar sempre acima, inclusive, do bem e do mal.

Esse é o plano deles para nós.

Façamos nossos planos também, ou atendamos logo à vontade deles.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Sofrendo na Carne

Na Venezuela Hugo Chavez nacionaliza o petróleo, lembra ao mundo que telecomunicações são concessões públicas, realiza reforma agrária, traz o povo para governar ao seu lado.

Na Bolívia Evo Morales grita ao mundo que as reservas naturais pertencem ao povo, chega ao governo por meio da mobilização popular, enfrenta os mais severos ataques internacionais em defesa da soberania do seu país e em defesa do seu povo que conduz o país pelas próprias mãos.

Mesmo na Argentina, um governante sem nenhum compromisso histórico com as lutas populares diz um basta à dívida pública injustificável, troca o atendimento ao mercado especulativo pelo atendimento ao povo e inicia a construção de uma nova realidade de independência.

Ao mesmo tempo, eu, num país em que um governo se inicia com toda uma carga de compromissos com as lutas populares, num movimento nascido pela luta de trabalhadores, sou obrigado a conviver com a continuidade da implantação do “mais do mesmo”.

Reforma da previdência, supersimples, PPP´s, privatizações, pedágios, trangênicos.

Pobre Brasil, pobre de mim, pobre povo sofrido e desesperançado.

E ainda somos obrigados a defender algo disso tudo para evitar que algo ainda pior nos aconteça.

Somos obrigados a pedir para apanhar mais e mais, para evitar o linchamento até a morte.

domingo, 12 de agosto de 2007

Depressão

A alma humana é algo inacreditável.

Somos capazes de tudo quanto nos pretendemos incapazes. Inclusive, somos capazes de cavar o próprio buraco no qual nos enterramos.

A felicidade é algo inalcançável de verdade. As alegrias momentâneas que nos dão o sentimento, a sensação de sermos felizes, nos tornam ainda mais suscetíveis a ação daquilo que nos agride em nossos mais íntimos sentimentos, sendo garantidor da mais profunda tristeza e infelicidade.

A ilusão que se desfaz, como a tora que pretendemos como aríete desfeita em cinzas, é a desconstrução do sonho e a mais direta demonstração da realidade desnudada frente a nós.

A esperança é a traição à razão.

A certeza do sucesso é a mais pura enganação construída a partir do impossível, demonstrando nossa incapacidade de entender o mundo.

Apenas a infelicidade é certa.

E àqueles que ainda acreditam no mundo, na vida, o conselho: aproveitem enquanto a ilusão não termina, pois quando isso ocorrer, tudo quanto vivido até aqui parecerá sem sentido e a vida mesmo, será algo a que não se dá muito valor.