segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

O conflito Israel – Palestina e o terrorismo no Oriente Médio

Há muito nós temos falado acerca da forma como se define o terrorismo e o enquadramento feito pela mídia em geral.


No caso do conflito Israel – Palestina a realidade não poderia ser outra.


Nessa semana, como fartamente divulgado pela imprensa, o grupo palestino que controla a Faixa de Gaza, o Hamas, encerrou o cessar – fogo celebrado com Israel, promovendo um ataque contra território Israelense. Saldo do ataque, segundo fontes do próprio governo israelense: 1 morto.


A “resposta” de Israel foi imediata, lançando uma ofensiva contra a Faixa de Gaza e mesmo preparando uma invasão. Saldo dessa operação israelense até o momento: 296 mortos, sendo 180 militantes do Hamas e 116 civis inocentes, entre mulheres e crianças.


Segundo a Ministra do Exterior de Israel, candidata à cadeira de Premiê, o número de palestinos mortos seria até baixo.


Não há sequer necessidade de comentar a situação, a desproporção do ataque de Israel e o caráter terrorista do mesmo. Nem mesmo precisamos lembrar que trata-se de uma operação genocida, uma verdadeira “limpeza étnica”.


Não bastasse uma operação de tamanha envergadura e que faz tantas vítimas, a própria política de Israel para a região não deixa alternativa de fuga para aqueles que desejam escapar da morte.


A saída dos palestinos para o Egito está fechada, inclusive em razão de acordos e mesmo em razão de o Egito não suportar mais o êxodo de refugiados palestinos em seu território. De tal forma, aqueles palestinos desesperados que ainda tentam passar por algum túnel clandestino, ou tentam passar por algum buraco no muro, são recebidos a bala, mortos ou presos e mandados de volta para seu território, para a morte.


Do outro lado, o cerco israelense à Faixa de Gaza é absoluto, não havendo qualquer possibilidade de um palestino deixar a região para fugir do conflito.


A tragédia social ainda se amplifica, pois os inúmeros feridos que conseguiram escapar da morte não encontram socorro adequado. Os hospitais já estão todos lotados. E mesmo aqueles que conseguem um leito se deparam com a completa falta de suprimentos médicos ou alimentação, resultado do longo bloqueio israelense imposto àquele povo há muito.


Como alternativa ao bloqueio, os palestinos ainda contavam com rotas de contrabando de suprimentos, que passavam por onze túneis clandestinos. Todos os onze, já no início da ofensiva, foram destruídos.


Simplesmente não há forma de aqueles palestinos escaparem da brincadeira de tiro ao alvo com mísseis e tanques, praticada por Israel. A eles só resta torcer e rezar, contar com a sorte.


E diante de tal realidade, o máximo de reação da comunidade internacional, representada pelo Conselho de Segurança da ONU, foi se manifestar em defesa de um novo cessar fogo e de novos diálogos de paz. Nenhuma censura à ofensiva militar israelense.


Apesar de toda essa situação, alguém poderia questionar: “mas foi o Hamas que acabou com o cessar fogo, realizando ataques contra Israel, que apenas reagiu”. Não é a realidade.


Durante toda a vigência do cessar fogo, Israel não deixou de realizar incursões militares e ataques contra supostos “alvos terroristas”. Nesse período a média de palestinos mortos por forças israelenses foi superior a dois por dia.


Além desse fator, a promessa de deixar chegar suprimentos à Faixa de Gaza, parte do acordo de cessar fogo, jamais foi cumprida, tendo sido mantido o embargo nos mesmos moldes de antes.


De tal forma, temos que o acordo de cessar fogo jamais foi válido para Israel, mas apenas para o Hamas.


Diante disso conclua-se: quem são os maiores terroristas, os fanáticos militantes do Hamas, ou o sionista Estado de Israel?

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Retomando as atividades

Desde junho de 2007, quando iniciamos a construção deste espaço, algumas mudanças de rumo foram marcantes.


O Pensamento Crítico foi criado com o objetivo de ser um espaço para a elaboração de idéias e análises críticas da realidade, divulgação de informações relevantes sobre a sociedade sob um olhar crítico.

Em alguns momentos tomamos caminho diverso, focando a produção em sentimentos, emoções e tantos outros temas, ainda que importantes, que estavam em outra ordem.


Após esse período de busca de uma identidade real e concreta deste espaço, foi cumprindo seu objetivo original que o Pensamento Crítico se consolidou.


Não é exagerada pretensão dizer que o Pensamento Crítico tornou-se, por algum tempo, algo muito maior do que o pretendido.


Em início, a idéia era construir um “armazém de idéias”, também como um espaço para disponibilizar para amigos e conhecidos um pouco de uma compreensão de mundo, não disponível nos meios de comunicação de massas.


Entretanto, após algum tempo e com um pouco de trabalho, chegamos a ter picos de mais de 400 leitores em um único dia, tendo uma média superior aos 100 leitores/dia. Foi algo surpreendente e gratificante.

Infelizmente, por diversas dificuldades que a vida nos traz, manter um espaço com uma produção diária, com tantos projetos em andamento, tentando dar-lhe alguma qualidade, nem sempre é possível. E nesses momentos o desânimo torna difícil até mesmo manter o possível.


Com isso muitos projetos que estavam em andamento ficaram inacabados, como o histórico das FARC, a análise sobre o julgamento de Simon Trinidad, o acompanhamento do desenvolvimento das transformações sociais na America Latina, dentre outros. Ficaram inacabados, mas não esquecidos.


Ao final deste ano de 2008, período extremamente positivo em termos pessoais, reaparece a necessidade de contribuir com as lutas e as necessárias análises sobre a realidade, ainda que modestas, necessárias neste vácuo de vozes populares que enfrentamos mundo afora.


Fruto deste sentimento de necessidade, informamos aos amigos, que fizemos durante todo esse tempo, que o Pensamento Crítico está retomando, gradualmente, seu regular funcionamento, onde tentaremos atualizá-lo diariamente, com temas importantes e análises críticas acerca da realidade.


O Pensamento Crítico está de volta e espera contar com a habitual colaboração e contribuição de todos os que nos acompanharam, como também de todos aqueles que esperamos conquistar daqui pra frente.


Muito obrigado a todos!


A pequena vendedora de fósforos

Caros amigos


Neste dia de natal, onde certos sentimentos afloram, mas onde muito mais se mostra o espírito consumista, uma história que acabei de conhecer foi capaz de mexer realmente com meus sentimentos.


Deixo-os aqui com esse maravilhoso conto, de triste história, com espírito tão real e realista.


Reflitam:


Hans Christian Andersen


Fazia tanto frio! A neve não parava de cair e a noite aproximava-se. Aquela era a última noite de Dezembro, véspera do dia de Ano Novo. Perdida no meio do frio intenso e da escuridão, uma pobre rapariguinha seguia pela rua fora, com a cabeça descoberta e os pés descalços. É certo que ao sair de casa trazia um par de chinelos, mas não duraram muito tempo, porque eram uns chinelos que já tinham pertencido à mãe, e ficavam-lhe tão grandes, que a menina os perdeu quando teve de atravessar a rua a correr para fugir de um trem. Um dos chinelos desapareceu no meio da neve, e o outro foi apanhado por um garoto que o levou, pensando fazer dele um berço para a irmã mais nova brincar.


Por isso, a rapariguinha seguia com os pés descalços e já roxos de frio; levava no avental uma quantidade de fósforos, e estendia um maço deles a toda a gente que passava, apregoando: — Quem compra fósforos bons e baratos? — Mas o dia tinha-lhe corrido mal. Ninguém comprara os fósforos, e, portanto, ela ainda não conseguira ganhar um tostão. Sentia fome e frio, e estava com a cara pálida e as faces encovadas. Pobre rapariguinha! Os flocos de neve caíam-lhe sobre os cabelos compridos e loiros, que se encaracolavam graciosamente em volta do pescoço magrinho; mas ela nem pensava nos seus cabelos encaracolados. Através das janelas, as luzes vivas e o cheiro da carne assada chegavam à rua, porque era véspera de Ano Novo. Nisso, sim, é que ela pensava.


Sentou-se no chão e enrolou-se ao canto de um portal. Sentia cada vez mais frio, mas não tinha coragem de voltar para casa, porque não vendera um único maço de fósforos, e não podia apresentar nem uma moeda, e o pai era capaz de lhe bater. E afinal, em casa também não havia calor. A família morava numa água-furtada, e o vento metia-se pelos buracos das telhas, apesar de terem tapado com farrapos e palha as fendas maiores. Tinha as mãos quase paralisadas com o frio. Ah, como o calorzinho de um fósforo aceso lhe faria bem! Se ela tirasse um, um só, do maço, e o acendesse na parede para aquecer os dedos! Pegou num fósforo e: Fcht!, a chama espirrou e o fósforo começou a arder! Parecia a chama quente e viva de uma candeia, quando a menina a tapou com a mão. Mas, que luz era aquela? A menina julgou que estava sentada em frente de um fogão de sala cheio de ferros rendilhados, com um guarda-fogo de cobre reluzente. O lume ardia com uma chama tão intensa, e dava um calor tão bom! Mas, o que se passava? A menina estendia já os pés para se aquecer, quando a chama se apagou e o fogão desapareceu. E viu que estava sentada sobre a neve, com a ponta do fósforo queimado na mão.


Riscou outro fósforo, que se acendeu e brilhou, e o lugar em que a luz batia na parede tornou-se transparente como tule. E a rapariguinha viu o interior de uma sala de jantar onde a mesa estava coberta por uma toalha branca, resplandecente de loiças finas, e mesmo no meio da mesa havia um ganso assado, com recheio de ameixas e puré de batata, que fumegava, espalhando um cheiro apetitoso. Mas, que surpresa e que alegria! De repente, o ganso saltou da travessa e rolou para o chão, com o garfo e a faca espetados nas costas, até junto da rapariguinha. O fósforo apagou-se, e a pobre menina só viu na sua frente a parede negra e fria.

E acendeu um terceiro fósforo. Imediatamente se encontrou ajoelhada debaixo de uma enorme árvore de Natal. Era ainda maior e mais rica do que outra que tinha visto no último Natal, através da porta envidraçada, em casa de um rico comerciante. Milhares de velinhas ardiam nos ramos verdes, e figuras de todas as cores, como as que enfeitam as montras das lojas, pareciam sorrir para ela. A menina levantou ambas as mãos para a árvore, mas o fósforo apagou-se, e todas as velas de Natal começaram a subir, a subir, e ela percebeu então que eram apenas as estrelas a brilhar no céu. Uma estrela maior do que as outras desceu em direcção à terra, deixando atrás de si um comprido rasto de luz.


«Foi alguém que morreu», pensou para consigo a menina; porque a avó, a única pessoa que tinha sido boa para ela, mas que já não era viva, dizia-lhe muita vez: «Quando vires uma estrela cadente, é uma alma que vai a caminho do céu.»


Esfregou ainda mais outro fósforo na parede: fez-se uma grande luz, e no meio apareceu a avó, de pé, com uma expressão muito suave, cheia de felicidade!


— Avó! — gritou a menina — leva-me contigo! Quando este fósforo se apagar, eu sei que já não estarás aqui. Vais desaparecer como o fogão de sala, como o ganso assado, e como a árvore de Natal, tão linda.


Riscou imediatamente o punhado de fósforos que restava daquele maço, porque queria que a avó continuasse junto dela, e os fósforos espalharam em redor uma luz tão brilhante como se fosse dia. Nunca a avó lhe parecera tão alta nem tão bonita. Tomou a neta nos braços, e soltando os pés da terra, no meio daquele resplendor, voaram ambas tão alto, tão alto, que já não podiam sentir frio, nem fome, nem desgostos, porque tinham chegado ao reino de Deus.


Mas ali, naquele canto, junto do portal, quando rompeu a manhã gelada, estava caída uma rapariguinha, com as faces roxas, um sorriso nos lábios… morta de frio, na última noite do ano. O dia de Ano Novo nasceu, indiferente ao pequenino cadáver, que ainda tinha no regaço um punhado de fósforos. — Coitadinha, parece que tentou aquecer-se! — exclamou alguém. Mas nunca ninguém soube quantas coisas lindas a menina viu à luz dos fósforos, nem o brilho com que entrou, na companhia da avó, no Ano Novo.