quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Filme “Tropa de Elite” Faz Sua Primeira Vítima Fatal

A febre do momento, aplaudida por muitos, criticada por outros, começa a confirmar a sua pecha de psicótico e apologista da tortura.

Defendido por muitos como a expressão da realidade, causando paixão em outros que começam a ver torturadores e assassinos do tipo “Capitão Nascimento” como heróis do combate à violência, a máscara de justiça que o filme tenta vestir com a aparência de merecimento das agressões por todas as vítimas começa a cair.

Evidente que um grupo que se arroga no direito de decidir de forma sumária sobre a vida ou morte de outros, utilizando como método principal de ação a tortura e a agressão gratuita, nada possui de heróico, pelo contrário, estão entre os mais frios e perversos bandidos.

Entretanto, o discurso terrorista e preconceituoso, beirando o fascismo mais descarado, aliado a uma “glamourização” de práticas psicóticas e cruéis, leva ao convencimento dos menos preparados em compreensão da realidade ou em sentimentos humanos, à defesa apaixonada da barbárie.

Mas agora o diretor do filme, José Padilha, que fez a opção por essa visão apologista do comportamento fascista e psicótico do filme, em conjunto com todos aqueles que fizeram a defesa de tal prática, começam a ver, de forma incontestável, de forma clara, direta e evidente, suas mãos manchadas pelo sangue das vítimas de tais atrocidades.

Já havia falado antes, nesse mesmo espaço, do poder de sedução psicótica do fascismo. E agora isso fica evidenciado e comprovado pela vida real.

Notícia estampada no dia de hoje nos jornais me deixou estarrecido, mas ao mesmo tempo com a sensação de normalidade, pois que notícia já esperada. Sob o título “Tropa de Covardes”, um dos jornais de maior circulação do estado do Paraná, a “Tribuna do Paraná”, estampava a notícia acerca da morte do jovem Bruno, filho do renomado colunista esportivo paranaense, Vinícius Coelho.

Abaixo, alguns dos envolvidos no crime:
Infelizmente, sou obrigado a dizer que “menos mau” que a vítima de tal atrocidade tenha sido um rapaz de classe média, de família conhecida e pai de prestígio na imprensa. Lamento profundamente a morte desse jovem, que comigo dividia a paixão eterna pelo maior clube de futebol do estado, o Coritiba, bem como pelo sofrimento de sua família e de seu pai, que tão bem tem contado de forma belíssima a história dessa nossa paixão. Mas sou obrigado a dizer que o fato de ser uma vítima com tal perfil pode ajudar no despertar da população quanto ao crime que está cometendo em ato de cumplicidade com o psicopata maior, senhor José Padilha. Pode ajudar, porque a repercussão que um caso desse tipo gera, é de reprovação absoluta da conduta adotada pelos bandidos, ao passo que se fosse mais um, dentre os muitos jovens pobres de periferia, ainda que absolutamente inocente fosse a vítima, seria automaticamente transformado em bandido para justificar a truculência e a barbárie tão aplaudida nos dias atuais.

Vigilantes, apenas para reprimir uma “pichação” em um muro de uma clínica, carregaram o jovem à força para a sede da empresa de vigilância, reproduziram as cenas de tortura do filme e depois o levaram para local ermo para a execução final, tudo seguindo o mais fiel roteiro de Padilha e a visão psicótica que tomou conta dos discursos da maioria da população por ele influenciada.

Que o caso sirva de lição a todos os que hoje aplaudem os “Capitão Nascimento” espalhados por todo o Brasil, que atuam nas favelas e morros, nas comunidades carentes e contra a população mais necessitada.

Tenho certeza de que muitos outros ainda serão vítimas desse tipo de prática tão incentivada pelos setores mais reacionários e psicóticos de nossa sociedade. Mas também tenho certeza de que, em havendo o devido repúdio da população a tais práticas, muitas vidas podem ser poupadas, muitas famílias podem ser livradas do sofrimento e nossas consciências poderão ter um pouco menos de culpa a carregar.

Seria necessário, para se fazer real justiça, que o senhor José Padilha, o mais descarado apologista da tortura, do extermínio e da barbárie que esse país já viu desde os anos de chumbo, respondesse conjuntamente pelo crime praticado contra esse jovem com toda a vida pela frente, que teve sua história abreviada pela mais reprovável crueldade humana. Portanto, sei que justiça não se fará.

Encerro aqui com dóis pedidos, o primeiro à parcela da sociedade que tem aplaudido e até desejado a ampliação das práticas fascistas e psicóticas, para que parem, olhem para o sangue desse jovem em suas mãos, reflitam e revejam suas posições, pois que a responsabilidade por todo esse estado de coisas, mais cedo ou mais tarde, lhes será cobrada, de uma forma ou de outra, talvez até, passando pela mesma situação que a família dessa vítima passa atualmente.

Meu segundo pedido é à essa figura por quem nutro profunda admiração, muito em razão da paixão que dividimos pelo nosso Clube do Alto de Tantas Glórias, o colunista Vinícus Coelho: por favor, não caia na tentação de cair no discurso vingativo e passional, psicótico em essência, da inflamada violência que exige a mais severa punição aos algozes de seu filho e a todos que são apontados como “responsáveis” pela violência e pela criminalidade. Por mais difícil que seja nesse momento, faça aquele esforço sobre humano que só os grandes de espírito são capazes, buscando a racionalidade mesmo no momento de desespero. Faça esse esforço e lembre-se que seu filho querido e amado, mais do que vítima dos que executaram de forma direta o crime que lhe ceifou a vida, foi vítima de toda uma parcela da sociedade, dos sentimentos psicóticos e dos discursos violentos que usam a suposta violência como desculpa para sua crueldade. Foi vítima da inspiração fascista e psicótica desse famigerado filme. Foi vítima da inflamada aprovação da sociedade por tais práticas da mais absoluta crueldade.

Sendo assim, caro Vinícius Coelho, lembre-se que o discurso, os desejos e a crueldade que foram os responsáveis maiores pelo antecipado fim da vida de seu filho, não podem ocupar sua boca e suas palavras. Se não foi possível salvar a vida de seu querido e amado filho, ajude a salvar a vida de tantos outros filhos que por aí estão, à mercê dos próximos agentes construídos por esse discurso fascista e psicótico, do ódio e da alienação gerada pelos “Padilhas” da vida.

Meus pêsames.