terça-feira, 25 de setembro de 2007

As Garras da Águia em Ataques Sutis

As garras do Império do Norte mostram-se, a cada dia, mais afiadas e prontas para o uso a qualquer momento, até mesmo de forma distraída e descompromissada. É o que demonstra uma proposta a ser votada hoje, terça feira, no congresso estadunidense.

Trata-se de um plano de divisão político-administrativa do Iraque de acordo com as etnias, sunitas, xiitas e curdos. E o mais espantoso, parece ser um progresso no sentido de uma retirada das tropas estadunidenses de solo iraquiano, apresentada por um Senador Democrata, o pré-candidato à presidência, Joseph Biden.

É a lógica comum do pensamento amplamente difundido naquela sociedade, que hoje tem na intolerância com as diferenças um dos motes centrais de união nacional. E tal lógica caminha em direção exatamente oposta àquilo que os povos de todo o mundo vêm buscando e construindo, desde finais do século XIX, de superação e aceitação das diferenças.

Note-se que nada haveria de errado na divisão político-administrativa do Iraque, não fosse por dois aspectos da proposta ora em análise: 1 – é uma divisão imposta por um Estado invasor; 2 – não é apenas um processo de regionalização da administração burocrática e política, mas uma divisão de territórios com base em critério puramente étnico.

Tal proposta apresentada exatamente pelo grupo político que se opôs internamente à guerra, ainda que de forma moderada, nos serve a demonstrar aspectos óbvios tanto da política interna, quanto externa do Grande Império do Norte, como a flagrante inexistência de uma verdadeira democracia.

Observemos que a auto-intitulada democracia estadunidense tem duas características básicas: 1 – a maioria não exerce poder algum de decisão, como ficou claro na penúltima eleição em que Bush não alcançou a maioria dos votos, sendo eleito apenas em razão do sistema indireto, semelhante ao brasileiro do período militar; 2 – as visões de mundo divergentes são reprimidas, sendo admitidas apenas a manifestação do mesmo, com divergências apenas quanto aos métodos, representados por republicanos e democratas.

A tímida oposição do Partido Democrata à guerra, como já demonstravam os argumentos meramente táticos da época, nunca teve como foco aspectos como o direito de auto-determinação dos povos, respeito a soberania dos demais países ou qualquer desses valores que a evolução das sociedades contemporâneas consagrou. Tratava-se apenas de uma divergência quanto aos métodos mais eficazes de dominação do petróleo e dos povos da região, tendo os democratas uma postura mais sutil, de dominação preferencialmente pela pressão política, econômica e pequenas demonstrações bélicas, como os corriqueiros pequenos bombardeios ao norte do Iraque no período Clinton.

Por essa razão, a política agressiva e direta de dominação por meio das armas não representa uma divergência real, de fundo, com qualquer dos demais grupos que disputam a hegemonia política e econômica naquele país, apenas uma divergência de método. E em um país em que diariamente manifestantes são presos e até mesmo condenados, em que organizações políticas são proibidas apenas por seus posicionamentos políticos e onde os direitos e garantias fundamentais encontram-se suspensos, não há sequer possibilidade de questionamento quanto a tal realidade.

No aspecto puramente externo, tal política demonstra a mesma lógica pela qual se sustenta a invasão militar do Iraque, com o completo desprezo pelo Direito Internacional e pelos direitos dos povos. A auto-determinação do povo iraquiano sequer entrou na pauta de discussões políticas, nem mesmo em tom de consulta da vontade.

Podem argumentar alguns que a proposta que será discutida e votada no Senado estadunidense nesta terça não é uma decisão definitiva, pois realmente não é, mas apenas uma recomendação e uma autorização para que o governo adote tal política.

Entretanto, está-se falando em recomendar e autorizar que o governo de um país, no caso, do Império do Norte, que faça, independente da vontade popular, independente da participação ou manifestação daquele povo, uma divisão político-administrativa de forma unilateral.

E não fosse simplesmente a grave agressão à soberania, que vem a somar-se com a situação de ocupação estrangeira, ainda ganha contornos de divisão étnica, espécie de segregação mútua institucionalizada por uma força invasora.

E mais uma vez, ainda que sob o discurso de possibilitar a retirada das tropoas invasoras do Iraque, está-se a garantir a divisão forçada de um país, a perpetuação da política do invasor, garantindo também, a continuidade da dominação do povo, do território e das riquezas, ainda com a economia da presença militar.

E o Império do Norte avança suas fronteiras definitivas, nas mesmas bases em que fomentou conflitos no passado, garantindo a conjuntura presente, da mesma forma que segregou e massacrou estrangeiros, negros, japoneses e tantos outros em seu território, com um único foco: os ganhos econômicos e a dominação do capital.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Educada Tortura

As sombras na calçada me distraem a atenção das vitrines que nunca vi. Mas as vitrines não merecem mesmo estar nessa rua. Ela não comporta essas vitrines que inutilmente tentam disputar espaço com as folclóricas figuras que habitam esse passeio urbano e o imaginário da gente daqui.

Senhores e rapazes agridem meus mais profundos sentimentos com seu chopp na calçada às quatro horas da tarde. Seus desgraçados! Quando estiverem atarefados ao extremo e sem um tostão nos bolsos, eu, vingativamente, estarei com as burras cheias e ocuparei esse lugar de vocês, fazendo-os passar pelo mesmo.

Um rosto conhecido vem em minha direção.

- Daí rapaz, tudo bem? Como é que vai a vida?
- Muito trabalho e pouco dinheiro.

Já tem algum tempo que eu tenho dado a mesma resposta mal humorada. E o pior é que é sincera.

- Pois é, a vida não ta fácil pra ninguém, não é?

Pensei em responder-lhe o que me veio a mente. Algo como “da tua vida eu não sei, nem quero saber. O que eu sei é que eu estou ferrado, mal pago atarefadíssimo demais para ficar de conversa fiada com quem eu nem lembro quem é.” Mas não, em minha habitual polidez no tratamento com as pessoas, mas mantendo o meu mal humor dos últimos tempos, limito o uso das palavras nessas ocasiões.

- É realmente...

- Pois é, já não nos vemos há algum tempo. Precisamos marcar alguma coisa, reunir o povo dos velhos tempos.

De que “povo” este figura está falando? De que “velhos tempos”?

- Pois é. Só marcar e me avisar.

Essa foi a minha vingança. Vingança perfeita. Esse figura agora se ferrou. Eu não vou mais precisar ficar pensando em quem ele é ou deixa de ser. Agora é ele que precisa mostrar que me conhece e de onde.

- Então, mas o teu telefone continua o mesmo?

Ah, agora ele me deu a deixa para a perfeita conclusão de minha vingança.

- Qual o número que você tem aí?

Ele retira o telefone do bolso cuidadosamente. E eu já estou babando de ansiedade pela derradeira derrota de sua farsa de falsa intimidade comigo.

Ele mostra-me o visor do celular:

- É esse ainda?

Eu, agora babando por quão boquiaberto fiquei, não acredito no que vejo.

- Sim, é esse.
- Então ta, eu vou ver se marco alguma coisa logo com o pessoal e daí te ligo.

Meu Deus! Preciso dar um jeito de sair daqui logo antes que ele descubra minha dissimulação.

- Então está bem, estarei aguardando sua ligação. Agora preciso ir, estou atrasado.

E vou já me afastando e dando as costas àquele ilustre desconhecido para mim. Mas o desgraçado não pôde deixar de usar sua última arma contra mim.

- Ei, não estou te cobrando os parabéns, mas hoje é meu aniversário!

Ai, agora ele me pegou. Agora ele vai partir para o auge da tortura, esmagar cada um de meus ossos e comprimir meu crânio até ver meus olhos explodindo para fora da órbita. Eu não posso permitir isso. Mas o desgraçado continua:

- Então, eu vou fazer uma confraternização, reunir os amigos.
- Ah, então ta, depois eu te ligo para te dar os parabéns direito e você me passa o local.

Acho que me safei dessa vez.

- Ah, vai ser lá em casa mesmo!

Desgraçado, agora acabou comigo! Eu vou saindo, agora praticamente correndo desesperado, me afastando até onde não mais possa ver o rosto daquele cruel torturador, nem mais ouvir a sua voz sádica!

Agora estou a salvo, mas não pretendo me aproximar mais daquela rua que tanto amo, ao menos até descobrir quem era o desgraçado. Ah, quem poderia me ajudar e permitir que eu resolvesse o problema hoje mesmo, podendo evitar conseqüências futuras?

Desgraçado! Não bastou a tortura do momento. Tinha que deixar seqüelas. Não posso ficar sem resolver esse problema. E hoje ainda.

A caminho de onde eu estava mesmo? O que eu precisava fazer? Desgraçado! Acabou com meu dia!

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Enfim

Enfim
Um brilho no olhar
Por um momento a lembrar
E sonhar com alegrias sem fim

Ainda não me pego a cantar
Nem é tanto o consolo assim
Mas prelúdio de um comemorar

Inebriado de lembranças
Embalando a esperança
Um viver e sonhar
Como um belo versejar

Como a chama reavivada
A alma aquecida
Irrompendo a invernada

Resta-me o corpo
A querer de ti um pouco
E me brota o desejo louco
De possuir-te de alma e corpo

Sobre ti transpirar
Teus contornos a acariciar
Sua pele seu calor

Por ti me brota o verso
Por ti planejo a prosa
Como a beleza de uma rosa
E em sonhos sigo imerso

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Por Quem as Mulheres se Vestem

- Oi amor, tudo bem?

- Oi, você demorou hoje, heim?

- Ah amor, é que eu estava me arrumando para ficar linda pra você.

- Ah, mas você já é naturalmente linda, não precisava se arrumar tanto.

- Ah, é que eu quero estar cada vez mais linda pra você.

- Mas eu já te disse que não precisa todo esse trabalho, toda essa maquiagem. Eu gosto de você ao natural.

- Mas eu quero ficar bonita! Mais bonita pra você!

- Mas eu estou dizendo que eu gosto mais de te ver ao natural, sem tanta maquiagem. Ou melhor, prefiro você até mesmo sem maquiagem nenhuma, num estilo mais casual até nas roupas.

- Ai amor, mas eu gosto de me produzir.

- Mas por quê? Você não disse que se arrumava pra mim?

- Ah, mas eu me arrumo pra me sentir bem também.

- Como assim se sentir bem? Você não vive falando da tortura que é essa imposição de um padrão de aparência, da moda, dos saltos altos, de maquiagens que fazem com que você sinta como se seu rosto estivesse engessado, além da irritação que a maior parte das maquiagens causam à sua pele?

- Ah, é, ãhm...

- O que foi? Fala!

- Bem, assim, tipo. Ah, sei lá. Eu quero me sentir bonita! É isso, eu quero me sentir bonita! Eu gosto de me sentir atraente!

- Mas eu não te faço sentir-se bonita o tempo todo? Não te faço sentir-se a maior das mulheres do mundo?

- É, assim, tipo, é, assim. Ah, é que eu quero sentir que todos me acham linda. Quero me sentir desejada, cobiçada.

- Como assim?

- Como assim o quê?

- Como assim “cobiçada”, “desejada”? Por quem?

- Como assim “por quem”?

- Eu é que pergunto! Se eu disse que te prefiro sem essa produção toda, então não é por mim!

- É, tipo, assim, é, ãhm, assim, quer dizer, é...

- Vai, fala logo, desembucha!

- Ai, não me pressiona!

- Não estou te pressionando. Ou melhor, estou sim! Quero que você explique isso agora!

- Ah, pare com isso, eu falei, tipo assim, tipo, só por falar. Foi uma coisa, assim, jeito de falar, sabe?

- Não, não sei não. Me explique então.

- É, tipo, é, ah, é, não sei! Você está me deixando confusa!

- Confusa com o que? Com o que você falou? Você quer se sentir desejada por quem?

- Ah, eu quero me sentir bonita, cobiçada, desejada por todo mundo!

- Então você está me dizendo que se arruma desse jeito que eu nem gosto apenas para aparecer para outros homens?

- Não, não é bem assim. Você está distorcendo as coisas.

- Distorcendo o quê?

- É, assim, está distorcendo o que eu disse.

- Então o que você disse? Você se arruma desse jeito pra quem?

- Ah, sei lá. Pra mim!

- Pra você como? Não era pra se sentir desejada?

- Ah, tipo, é.

- Desejada por quem?

- Ah, é, tipo, assim, ah, por todo mundo!

- Então é pros outros?

- Ah, tipo, assim, é, sei lá!

- Então é isso? “Sei lá!”? Isso é a confirmação então? Você está o tempo todo me fazendo de trouxa? Andando ao meu lado, se dizendo comigo e se arrumando para os outros?

- Não é bem assim também.

- E é como então?

- Ah, que seja então! Por quê? Isso é problema? Você vê algum problema em eu querer que os outros me achem linda?

- Ah, mas então você admite! Não se arruma pra mim, pelo contrário, me desagrada frontalmente, enquanto fica se arrumando para agradar outros homens e acha isso normal?

- Não é bem assim também.

- E é como então?

- Sei lá!

- Se você não sabe, eu sei bem! Cansei! Não vou ficar ao lado de uma mulher que despreza a mim, enquanto fica preocupada apenas em exibir-se para outros homens! Não tenho vocação pra corno! Está tudo acabado! Tchau!

- Ei, espera aí! Também não é assim!

- Não é assim o diabo! Acabou! A-ca-bou!

- Não faça isso comigo! (agora já em lágrimas)

- Não adianta vir de chantagem emocional! Você devia ter pensado melhor nisso antes de tomar suas atitudes, antes de adotar esse comportamento! Agora é tarde, está tudo acabado!

Ele sai em passos acelerados, firmes e decididos, batendo a porta com violência ao sair.

Ela se atira ao sofá, em prantos, desesperada. Ali permanece por cerca de meia hora, lamentando-se pela incompreensão do namorado, agora ex-namorado. Até que toca o telefone. Ela atende com a voz ainda embargada pelo choro.

- Alô?

- Alô. Quem?

- Quer falar com quem?

- Quero falar com a Marcinha.

- É ela. Quem está falando?

- Aqui é o Gil, primo do Pedro, lá da balada de último sábado. Te achei a maior gata e peguei teu telefone com meu primo.

- Ah é?

- É. E daí fiquei pensando, assim, tipo, o que você vai fazer hoje, essa noite? Já tem compromisso.

- Ah, assim, tipo, sei lá. Eu até tenho, mas dependendo, posso desmarcar.

- Opa! Então, tem uma baladinha nova que ta inaugurando hoje...

sábado, 15 de setembro de 2007

Mulheres Não Guardam Segredos

- Então, você vai comigo pegar o carro?
- Claro, vamos lá.

E fomos, não sem antes eu pedir aos que já estavam a caminho do bar para juntarem várias mesas, pois outros amigos nossos estavam a caminho também.

Chagamos ao carro, um rápido e cuidadoso olhar ao redor, seguido de um beijo às escondidas. Ninguém sabia, nem poderia saber que estávamos tendo um caso. Não por algum motivo especial, apenas não podiam saber, sei lá o “por quê”.

Pegamos o carro e seguimos em direção ao bar. Lá estavam nossos amigos reunidos numa longa mesa, com alguns lugares ainda sobrando, aguardando outros tantos que viriam. E lá estava também aquela colega que há muito tenta alguma coisa comigo.

Sentamos-nos um pouco distantes, para não dar chance a interpretações indesejadas por nós. E começamos a beber e a conversar.

Eu, como sempre, obriguei-me a entrar em alguma polêmica, salvo engano, sobre política, tema pouco recorrente em minhas conversas. E evidente, numa conversa com amigos que somente conhecem algo de política, muito a contra gosto, pelas páginas da revista semanal e pelas cenas do Jornal Nacional, o embate entre análise e senso comum é sempre uma bela e radical polêmica de botequim.

Papo vai, papo vem, aquela coleguinha com segundas intenções aproveita a oportunidade para pedir explicações mais detalhadas sobre o que eu estava falando. Ao seu lado, claro.

E agora, o que fazer? A minha “coleguinha”, minha “amiga secreta” está aqui, ao meu lado, mas eu não posso dizer nada a respeito para evitar ir até a outra “coleguinha sacana. Também não posso aceitar o convite e sentar-me ao lado da outra, deixando a “minha coleguinha” de lado, sob pena de perder o acesso aos encantos seus.

- Não, eu explico daqui mesmo.
- Ai, por quê? Senta aqui do meu lado, vai. Me explica isso melhor.
- Sim, eu explico daqui mesmo.
- Ué, pode sentar aqui do meu lado, eu não mordo. Pelo menos, se você não quiser.

Eu dou um sorriso um tanto constrangido.

- Não eu quero ficar aqui.
- Por quê? Não pode sentar do meu lado? Tem medo de mulher?
- Não é isso. Inclusive eu estou sentado do lado de outra mulher.
-Ah, eu to achando que você tem medo de mulher. Eu to achando que você é gay. Você é gay, não é?

Ela indaga em tom provocativo.

- Sim, eu sou gay. Por que, algum problema com isso? Algum preconceito?

Eu respondo com absoluta segurança, em tom desafiador, com os olhos ameaçadores e fixos nela.

- Não, nenhum problema, nenhum preconceito, pelo contrário. Desculpe.

Todos me olharam disfarçadamente por alguns instantes, procurando não manifestar nenhum juízo. E enfim, eu tive paz, sem sofrer mais nenhum tipo de pressão naquela noite, ao menos na mesa do bar.

Olho para o outro lado, para minha acompanhante secreta. Ela parece nem ter ouvido nada, continuando outro assunto com o pessoal que estava do outro lado da mesa. E eu volto às discussões políticas.

Já com algumas boas cervejas tomadas, “minha coleguinha” me olha e fala em irmos embora, ao pé do ouvido, no que eu entendo perfeitamente que o problema de mascarar o fato de estarmos saindo juntos não tem nada a ver.

Ela se levanta e vai se despedindo de todos. Eu, rapidamente pergunto: “você me dá uma carona?”. E ela responde afirmativamente. Assim, vou me despedindo de todos também.

Ela me pede para dirigir, o que é um bom sinal. Logo após partirmos, ela me olha e pergunta:

- Ei, aquele papo lá no bar era lenda né? Você estava só de conversa, não? Você não é gay coisa nenhuma.

Eu fixo os olhos nela por alguns instantes, com um olhar bastante irônico, enquanto ela parece começar a ficar um tanto apreensiva. E respondo:

- Não sei. Acho que você precisa testar. Vamos lá?

Mesmo antes de poder ouvir resposta eu mudo o caminho para local em que o teste poderá ser mais, digamos, completo.

Durante uma semana fui bastante assediado por mulheres que estiveram naquela mesa de bar e por outras que com elas tiveram contato. Parecia que eu havia me tornado uma espécie de desafio, um troféu, todas querendo resgatar minha masculinidade, mudar minha suposta orientação homossexual. Foi muito bom aquilo.

Mas finda uma semana, aproximam-se de mim em três, incluída aquela se “segundas intenções” e, antes de dizer ao menos um “oi”, já sentenciaram:

- Você não é gay coisa nenhuma! Você é um mentiroso, isso sim.
- Quem disse isso?
- Ah, não venha querer mentir mais pra gente porque nós já estamos sabendo de tudo!
- Tudo o que?
- Tudo, oras. Sabemos o que você anda aprontando.
- Eu aprontando?
- Não se faça de cínico!
-Está bem, está bem.

Como além daquela “minha coleguinha” eu havia tido alguns outros casos às escondidas anteriormente em círculos próximos, até hoje eu não sei se elas se referiam àquela “minha coleguinha”, a outra anterior, a todas elas ou algumas delas.

A única conclusão a que eu chego é a de que as mulheres não sabem manter um segredo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Noite Perfeita

Corpos ardentes em frenéticas carícias mútuas. Sabores e odores, trocados e provados até o último resquício de sua existência. Beijos cheios de paixão e desejo. Êxtase anunciando-se no horizonte.

Uma palavra, um suspiro, um olhar.

Corpos entrelaçados num estranho balé sem melodia, em ritmo acelerado, compassado. Corpos que se fundem e se confundem, que se possuem e se deixam possuir, em verdadeira cena antropofágica das mais deliciosas e excitantes, injustamente censurada à admiração pública.

Momentos silenciosos, apesar dos suspiros, gritos e gemidos, pois até a mais leve respiração e o próprio bater dos corações é intensamente ouvido e sentido. É o máximo complemento entre poesia e sua rima lógica, pois que multiplicam-se as sensações dos corpos que alcançam, sem deixar o chão, as nuvens mais elevadas, com mil mãos, mil toques, mil beijos e desejos que estão por saciar-se.

Seios tornam-se extensão das mãos. Unhas cravam a carne como punhais que sequer são temidos. Invasão consentida do sagrado templo do desejado corpo feminino. Eu e ela, tornando-se apenas um, sem saber mais quem é quem, onde os toques são nossos, onde somos tocados.

Entrega total e absoluta, que explode em mil sensações e cores, violentos sabores, que dominam corpos trêmulos e esgotados, num transe, num êxtase.

Um último olhar, olhos nos olhos, um singelo sorriso, agradáveis palavras e um inocente abraço meu por suas costas, aguardando, juntos, o sono nos embalar aos sonhos que, quando muito, nos lembrarão do paraíso que acabamos de alcançar.

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Desabafo ao Meu Amor

Poder amar é algo que engrandece a vida, ilumina nossos dias, enriquece nossa alma.

Amar não requer licença. Não requer presença, nem sequer promessas. Amar é algo que apenas acontece, quando menos esperamos, que nos leva a quem sequer sonhamos.

Amar não permite escolhas. Apenas amamos, sem decidir a quem, sem decidir como, sem saber quando.

Ao te conhecer, jamais imaginei um dia amar-te. Jamais imaginei um dia por ti sofrer. Mas amar não é querer. Amar não é imaginar. E simplesmente aconteceu.

Não queria amar. Não podia amar. Não esperava sonhar. Não podia me entregar. Mas amei, sonhei, me entreguei. E agora, de mim, nada sei. Não posso, nem devo, cobrar-te nada. A lágrima derramada, o beijo negado, o amor não dado, o encontro perdido, a noite desejada, a esperança perdida, os sonhos rasgados, a palavra não dita, a poesia reescrita.

Você nada prometeu.

Mas é duro te ver, sem poder te tocar. Não que eu queira de ti a distância segura, a distância a apagar e lembrança. Não posso perder-te novamente. Não sobreviveria.

Tampouco posso dizer-me tranqüilo, pois que a mentira você veria em meus olhos, ao te ver passar, ao te ver chegar, ao te ver...

Eu te quero, te desejo, sonho contigo. Não é sua imagem, mas sua alma que a minha assombra. A tua sombra me basta a causar arrepios e suspiros, dos mais insanos e indomáveis sonhos de amor, amor que um dia, no passado, deixou de ter futuro.

Dizem-me: pessimista, derrotado.

Não sei. Talvez. Mas o que posso dizer? Se diante de ti me sinto menor, pois que diante do maior amor que pode existir, minha própria existência compreende sua absurda insignificância.

Teu olhar ilumina meus sonhos. E meus sonhos me fazem lembrar que minha vida é outra. Mostram-me que a vida não é um conto de fadas, que ao final, vilão vencido, vive-se feliz para sempre. Pois meus sonhos, em felicidade plena, absoluta, contrastam brutalmente com meus torturantes dias. Torturantes, pois sem você em meus braços.

Não, não quero simplesmente teus beijos, por mais que eles muito me confortem. Não, não quero simplesmente amar-te em carne, em corpo e suor, por mais que o sublime e intenso prazer muito me agrade. Quero-te por inteira, de corpo e alma, de dias e vidas.

Talvez me digas: “Idiota! Não sabe encarar a derrota e seu rumo tomar!”. Ou talvez me digas: “Covarde! Não sabe lutar, não sabe buscar, perseverar e conquistar!”.

Mas em verdade te digo: sou covarde. Covarde demais para a derrota encarar.

Por isso, do fundo de minha alma, te digo: a esperança perdi, o sonho reprimo. Mas se perguntares se desisti de ti, direi que jamais, pois um amor verdadeiro, desses que nos tiram o chão, não se esquece jamais. E não é possível desistir daquilo que nos persegue por toda a vida. Portanto, de ti não desisti.

Assim, apenas me resigno a meu canto, admirando o encanto, que me sobra de teu olhar.

E de sonhos me lembro, até o dia em que me deixes por ti lutar.

Amo-te! E isso resume tudo. Amo-me! E isso complica tudo.

Ainda serás minha! Não em sonho e poesia. Mas em vida, em meus dias.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Negro Acácio – Em Vida ou Exemplo – Eterno em Nossos Sonhos e Memória

Deixa-nos, o comandante, amigo e companheiro, Negro Acácio, ou não.

Ainda não sabemos ao certo, mas diz a boca do inimigo que sim.

Diz o inimigo, o Governo da Colômbia, do fascista Álvaro Uribe, ter dado cabo da vida da imagem de sonhos e esperança daquele que organizava e guiava os passos da frente 16 de nosso Exército Popular na Colômbia.

É certo que a sua falta será sentida, caso o inimigo, mais fiel representante do resquício fascista em nossos tempos, fale a verdade. Mas, mais certo ainda, é que mesmo que morto nosso amigo e companheiro, com ele não se vai o sonho e a certeza de um futuro melhor. Esses não, esses ele nos deixa, ainda que tenha partido, para que sonhemos e tenhamos a certeza. Tenhamos a certeza e o sonho, para termos a força de construir esse futuro com que tanto sonha a humanidade. Um futuro de paz, solidariedade, justiça, igualdade e fraternidade.

É ainda mais certo que se ainda vivo, reforça-se seu exemplo de coragem e luta. Da certeza de lutar a boa luta, em defesa do bom sonho. Não menos certo, é que ainda que deixe essa vida, jamais morrerá, pois em seu exemplo de vida, luta e companheirismo, permanecerá vivo por todas as gerações, em nossos corações e em nossa memória.

Na luta do povo colombiano, de todos os povos em luta da América Latina e do mundo, apesar das mentiras fartas, seus irmãos de cela e de cruz, com ou sem você, saberão manter a trilha do caminho.

E a luta das FARC-EP, tenho certeza, fortalece-se, com sua presença ou sua ausência. Pois aqueles que lutam a boa luta, pelo exemplo, ou pelos atos, somente fazem crescer e aproximar-se o objetivo final.

Amigo e irmão, Negro Acácio, presente!!!

sábado, 1 de setembro de 2007

Lágrimas de amor


Lágrimas de amor
Traição a razão
Loucura e terror
Funeral da paixão