terça-feira, 8 de abril de 2008

O telhado de vidro do PSDB

Estamos vivendo a segunda grande crise de denúncias contra o governo Lula, contra o PT. No entanto, assim como o primeiro, esse parece que não provocará nem arranhões ao governo, com o agravante de que agora pode provocar problemas justamente à oposição, que na pessoa do Senador Álvaro Dias, também conhecido por outros nomes na noite paranaense, parece ser o responsável pelo vazamento dos dados sobre gastos com cartões corporativos do governo FHC.

Diante dessa realidade em que o governo Lula parece quase inabalável, surgem inúmeras teses apresentadas na imprensa, sobretudo na imprensa paranóica (sentido psicanalítico do termo – falsa representação da realidade).

São cientistas políticos falando sobre o carisma de Lula, são revistas falando em manipulação da informação e da mídia pelo dinheiro, são órgãos da mídia falando em compra de apoio com programas assistenciais, dentre tantos outros argumentos que jamais atacam o centro da questão.

Diante dessa realidade, cabe apontarmos certas contradições internas do discurso apresentado, que reflete o grande dilema do discurso oposicionista que não pode atacar o centro das políticas do governo Lula.

Ao observar o discurso de que o governo estaria “comprando” apoio popular com os programas sociais, notadamente o “Bolsa Família”, verificamos que os veículos de imprensa que fazem tal acusação são os mesmos que apontam como real “criador” de tal programa o ex-presidente Fernando Henrique, o governo do PSDB. Torna-se necessário, portanto, questionar a razão de agora, o mesmo programa que tais veículos apontam como manipulador, não o ser antes, nem mesmo tendo servido para garantir a eleição do candidato de FHC na eleição presidencial de 2002.

Quando vemos referências e acusações sobre uma suposta manipulação da mídia, torna-se curioso vê-las reproduzidas pela Folha de São Paulo, pela Globo, pelo Estado de São Paulo, enfim, por todos os maiores veículos de comunicação do país. Será que eles estão falando de si próprios? E se estão, como publicam tais acusações sobre si?

Se a verdade não é verossímil por esses caminhos, devemos procurá-la por outros.

Durante o governo FHC as acusações corriam por outros caminhos muito mais sólidos.

Eram as privatizações a preço irrisório, as doações de recursos públicos aos bancos, a política econômica a privilegiar apenas o capital especulativo, os privilégios aos grandes grupos econômicos em detrimento do povo, a política contra a reforma agrária, dentre tantos outros pontos.

Se observarmos de forma mais detida, verificamos que na essência, a realidade do período PSDB e do período PT não se diferenciam em muito, com apenas algumas particularidades de estilo e agraciamento em maior ou menor grau aos componentes diversos daquilo que podemos definir como elite econômica, ou grupos de exercício do poder real.

A política econômica, elemento central da política de um país, determinante de todos os demais elementos políticos, continua basicamente a mesma, apenas com a mudança de alguns atores e diferenças de estilo de condução.

O desmonte da máquina pública não parou, apenas foi freado diante da constatação óbvia de que o ritmo antes imposto, já estava por prejudicar mesmo os setores econômicos interessados em seu fim, o que provocava prejuízos com gargalos de infra-estrutura, falta de capacidade de substituição privada em setores nos quais o Estado deixava de atuar, até mesmo por falta de pessoal, dentre outros. E não podemos esquecer que ponto fundamental era a grande insatisfação popular ocasionada pela velocidade do desmonte do Estado, o que já gerava grande pressão popular por mudanças, elemento que causava terror aos exercentes deste poder real.

Observe-se que o caminho trilhado pelo governo Lula não é de recomposição dos serviços públicos, mas apenas uma recuperação parcial a garantir uma sustentabilidade mínima. Também os salários e as condições de trabalho do funcionalismo, mesmo naquilo essencial para o exercício das funções, continuam sendo deixados de lado, tendo as reivindicações sobre tais temas até mesmo demonizadas. Mesmo as recentes contratações de funcionários, se bem observarmos, não recompõe nem mesmo os profissionais que deixaram o serviço público nos últimos 10 anos.

Podemos dizer que na verdade, o papel que cumpre o atual governo, é apenas o de correção de rumos, de consertar e corrigir os erros cometidos por seu antecessor, mas sem mudar o rumo, em um milímetro sequer. Não à toa, dos tão falados cargos de livre nomeação do governo federal, quase um quarto continua ocupado pelos mesmos nomeados nos tempos do governo FHC, além de termos em todos os escalões, inclusive ministérios, presidência do Banco Central, aqueles que já exerceram tais funções sob Fernando Henrique, ou faziam parte de seu grupo.

Assim vemos que a disputa entre governo e PSDB é apenas a disputa pelo direito de ser o executor da mesma política, a disputa para decidir quem é o melhor executor de uma política que parece ditada por alguma entidade superior, orientadora de ambos, como um patrão presente e tradicionalista.

É isso que nos leva à discussão sobre autorias de dossiês, acusações sobre cartões corporativos, infindáveis acusações mútuas, que nada representam nas questões de fundo dos rumos do Brasil. E é por isso que não vemos a discussão sobre a validade das parcerias público-privadas, terceirizações, política de desenvolvimento, distribuição de renda, ou qualquer outra política que realmente possa impactar positivamente nas condições de vida da população brasileira.

O PT elabora um dossiê, o PSDB divulga o documento para se dizer vítima e desgastar os agentes do atual governo, um Senador histérico e fanático por holofotes se apresenta à cena, a gritaria reina ao mesmo tempo em que temos a certeza de que nada muda.

O povo brasileiro precisa, urgentemente, construir uma verdadeira oposição política à nossa situação, à nossa realidade atual. Ou isso, ou mais do mesmo, até não mais podermos recuperar nosso país e construirmos um Brasil dos brasileiros.