domingo, 24 de junho de 2007

Não a Quero Mais

Mais da série "Tralhas Antigas" - realmente do fundo do baú.


Olhando para o nada
Pensando em logo mais
Eu vou encontrá-la.

Mas nem tudo é tão simples
Quase nada na vida é simples.
E tudo o que puder dar errado vai dar errado
Murphy desgraçado!

Uma cerveja e outra
O tempo não passa
Algumas palavras e algumas reclamações pelas palavras não respondidas

Pensamentos longes, distantes, nela...
Preciso encontrá-la
Preciso beijá-la
Preciso possuí-la.

O tempo passou
O tempo
Ah meu velho companheiro!

Mas o velho companheiro nem sempre é amigo
O tempo não a trouxe
O tempo disse que ela não mais será minha
Ao menos essa noite.

Só resta dizer ao velho companheiro
Que não a quero mais
Por quanto exista o velho companheiro...

Odeio-te

Outra da série "Tralhas Antigas"

Odeio-te,
Odeio-te com toda a força de minha alma.

Não quero saber nada de você.
Nada mais me importa. Nada mais me resta.

Tenha no silêncio
Tudo o que te pertence do meu ser.
Só irei buscar o que me faça sorrir.
Terei uma vida melhor.

De você, nada mais me resta.
Nem seu cheiro.
Nem seu calor.
Nem seu sabor.

Mas onde poderei encontrar vida melhor?
Onde está vida melhor?
Vida melhor sem você?

Eu ainda te quero.
Quero-te porque te odeio.
Odeio-te porque te amo.
E te amando odeio a mim mesmo.

E odeio te amar.
Mas te amo!
E me odeio por isso.

O Mundo Tem Me Parecido Estranho

Mais uma da série: "Tralhas Antigas"


O mundo tem me parecido estranho.
Observo as pessoas que passam na rua
Todas elas infelizes
Mas todas se dizem felizes

O mundo tem me parecido estranho.
Observo os famintos
Todos eles miseráveis
Mas todos eles dizem não querer o que é do próximo

O mundo tem me parecido estranho.
Observo os ladrões
Todos eles com medo do próximo roubo
Mas todos eles dizem ser o único caminho a seguir

O mundo tem me parecido estranho.
Observo os assassinos
Todos eles arrependidos
Mas todos eles dizem não saberem o que aconteceu

O mundo tem me parecido estranho.
Observo os trabalhadores braçais
Todos eles se sentindo sem uma vida digna
Mas todos eles acreditam que o trabalho dignifica o homem

O mundo tem me parecido estranho.
Observo os assalariados
Todos eles acreditam pouca a paga de seus trabalhos
Mas todos eles procuram trabalhar mais pela mesma paga

O mundo tem me parecido estranho.
Observo os estudantes
Todos eles dizem não estarem aprendendo nada de fato
Mas todos eles continuam a estudar do mesmo modo

O mundo tem me parecido estranho.
Observo os insatisfeitos
Todos eles dizem que tudo precisa mudar
Mas nenhum deles procura mudar nada

O Mendigo e o Ladrão

Ao largo da alegre avenida vão e vêm os transeuntes, homens e mulheres, perfurmados, elegantes, insultantes. Junto a um muro está o mendigo, a mão pedinte adiantada, nos lábios trêmulos a súplica servil.- Uma esmola, pelo amor de Deus!De vez em quando cai uma moeda na mão do pedinte, que este mete rapidamente no bolso emitindo louvores e reconhecimentos degradantes. O ladrão passa, e não pode evitar o olhar de desprezo sobre o mendigo. O pedinte se indigna, porque também a indignação tem pudor, e refuta irritado:- Não tem vergonha, vadio, de se ver frente a frente a um homem honrado como eu? Eu respeito a lei: não cometo o crime de meter a mão no bolso alheio. Meus passos são firmes, como os de um bom cidadão que não tem o costume de caminhar nas pontas do pés, no silêncio da noite, por habitações alheias. Posso apresentar o rosto em todas as partes; não recuso o olhar de um policial; o rico me vê com benevolência e, ao largar uma moeda em meu chapéu, bate em meu ombro dizendo-me, "bom homem!".

O ladrão abaixa a aba do chapéu até o nariz, faz um gesto de nojo, observa em seu redor, e replica ao mendigo:- Não espere que eu me envergonhe em frente a ti, vil mendigo! Honrado tu? A honra não vive de joelhos esperando arrastar o osso que haveria de roer. A honradez é altiva por excelência. Não sei se sou honrado ou não; mas te confesso que tenho vergonha na cara para suplicar ao rico que me dê, pelo amor de Deus, uma migalha da qual me despojou. Violei a lei? Isto é certo; mas a lei é coisa muito distinta da justiça. Violo a lei escrita pelo burguês, e essa violação contém em si um ato de justiça, porque a lei autoriza o roubo em prejuízo do pobre; isto é uma injustiça; e quando arrebato ao rico parte do que roubou dos pobres, executo um ato de justiça. O rico te bate o ombro porque teu servilismo, tua baixeza abjeta, a ele garantirá o desfrute tranquilo daquilo do que a ti, a mim, e a todos os pobres do mundo nos tem roubado. O ideal do rico é que todos os pobres tenhamos alma de mendigo. Se fosses homem, morderias a mão do rico que te lança restos de pão. Eu te desprezo!O ladrão cospe e se perde na multidão. O mendigo alça os olhos ao céu e geme: - Uma esmolinha, pelo amor de Deus!!!
Ricardo Flores Magón.Regeneración, n. 216. 11 de dezembro de 1915.

Todos Esperam Uma Divina Graça

"Da série: Tralhas Antigas"

Todos esperam uma graça divina
Eu espero apenas uma divina graça!

O mundo me contraria
Então resolvi contrariar o mundo!

Eu nasci
Me vingo disso diariamente!

E o que eu vou fazer daqui pra frente?
Tento faz!

Ninguém ressuscita,
Ninguém renasce,
Não há juízo final,
Não há paraíso.

A minha parte em dinheiro
Vou viver à vista
Pelo tempo que permitirem as prestações

Será que rola mais uma rodada?

Fugindo de Mim Mesmo

Não sei se há quem visite este espaço rotineiramente.

Mas se há, peço mil desculpas por não ter publicado nada novo até o momento.

Também peço desculpas por não ter postado nada muito racional, nenhuma análise ou coisas do gênero nos últimos tempos, coisa a que me propus quando iniciada a presente página.

A não publicação de coisas novas, se deve ao fato de estar, no momento, escrevendo dois pequenos textos de análise política sobre temas distintos, no caso, direito de greve do funcionalismo público, outro sobre a proposta de restrição da contribuição financeira de militantes ao partido político, tendo para tanto, apenas os intervalos de tempo entre alguns compromissos familiares desses dias.

Já a não publicação de coisas mais racionais, analíticas, nos últimos tempos, se deve a coisas do coração, como qualquer um pode perceber por tudo o que tenho escrito.

Um homem perdidamente apaixonado, agindo como um adolescente, é algo realmente patético. Mas nem estou me importando em ser patético, pois estar apaixonado é algo fantástico, maravilhoso. Amar, é algo revolucionário, como já escrevi aqui. E meu coração revolucionário estava, ha muito, esperando por isso. E agora encontrou.

A propósito, enquanto não termino os textos a que me referi, para que qualquer um possa notar a enorme diferença entre o antes e o depois de tão arrebatadora paixão, deixo algo que escrevi algum tempo atrás, um texto de quem estava perdido, sem inspiração, sem amor, sem esperança de amar:

"Eu quero fugir de mim mesmo
Eu quero encontrar alguém que me impeça de continuar fugindo
E fujo de todos
Inclusive de mim

Não me encontro
Não me reconheço
Nem sei mais quem sou

Sei o que quero
Sei que quero aquilo que não é o que não quero
Não sei muito além disso
Só sei que não sei aquilo que pensava que sabia

Eu choro
Eu grito
Desespero-me

Espero por alguém
Alguém que não sei se um dia hei de encontrar
Enquanto não encontro
Também não sei procurar

Perdido estou
Perdido me vou
E perdido me perco, cada dia mais"

Que bom que minha realidade mudou...