sábado, 15 de dezembro de 2007

A Hipocrisia Descarada do Governo Colombiano

A Colômbia, durante sucessivos governos, tem entregue sua soberania ao governo estadunidense, que mantém inúmeras bases militares no país, além do efetivo comando sobre as forças armadas e mesmo sobre a política de segurança da Colômbia.

Além disso, a Colômbia, há muito, é dirigida pelo narcotráfico, como ficou comprovado pelas ligações de vários de seus presidentes e altos comandantes militares com os cartéis de Cali e Medelin, inclusive do atual, Álvaro Uribe, que prestava valiosos serviços a Pablo Escobar, chegando a chamar Uribe de “seu preferido” e “indispensável”, conforme relatam diversos antigos colaboradores de Escobar e mesmo sua noiva, em livros, entrevistas e processos judiciais.

Como já é notória, a hipocrisia do governo colombiano começa pelo fato de buscar, através de um forte aparato de comunicação, dirigido por Washington, responsabilizar as FARC pelo narcotráfico que é dirigido de dentro da Casa de Nariño, o palácio presidencial do país.

Agora vemos mais uma cena dessa hipocrisia, na reação do governo colombiano às declarações do presidente nicaragüense, Daniel Ortega, a respeito dos prisioneiros em poder das FARC e da política Ingrid Betancourt.

Ortega fez críticas ao governo colombiano pela encerramento da bem sucedida mediação de Chavez nas negociações humanitárias, além de fazer um apelo às FARC, dirigindo-se a Manuel Marulanda, pela libertação de Betancourt. Ortega, ao dirigir-se a Marulanda teria dito “Quero fazer um apelo a nosso querido irmão, o comandante Manuel Marulanda, em nome dos revolucionários latino-americanos”.

A reação do governo colombiano foi bastante dura, exigindo que Ortega não interferisse em assuntos internos da Colômbia, também condenando a “irmanação” com um “grupo terrorista”.

É interessante ver um país reivindicando respeito à sua soberania, ao mesmo tempo em que é controlado, de forma absoluta, por Washington, tanto militarmente, quanto politicamente. Talvez Uribe e os membros de seu governo devessem estudar um pouco sobre o tema da soberania, buscando entender o que significa, pois a Colômbia não possui soberania alguma.

Da mesma forma, é interessante observar um governo que apoiava a criação de grupos paramilitares que promoviam atentados a bomba, assassinatos e execuções de camponeses, extermínio de populações inteiras de pequenos povoados, condenando declarações amistosas de um presidente em relação a um grupo “terrorista”, que jamais promoveu ataques contra populações civis, ou mesmo atentados a bomba. Talvez, em verdade, Uribe esteja condenando os presidentes que declaram apoio ao seu governo.

A nota do governo colombiano lembra que as declarações partem do presidente de um país que já sofrera muito com a violência. E esse é um ponto central a se destacar, pois a violência na Nicarágua teve em Ortega um dos maiores lutadores pelo seu fim.

Alguém deveria lembrar a Uribe que Ortega e as FARC têm mesmo que se “irmanar”, pois são irmãos de luta, irmãos de sonhos, irmãos de objetivos. Lembrar a Uribe que a solidariedade entre os povos em luta, é a marca registrada daqueles que sonham e buscam um mundo melhor, mais justo, mais fraterno, mais igualitário.

Ortega foi um importante lutador, que combateu por longo tempo um regime autoritário e assassino, que se travestia de democrático, sob a direção e com o apoio, político e material dos Estados Unidos, assim como é o governo colombiano atual.

Não é preciso lembrar de que lado estão cada um dos governos latino-americanos, dentre os quais, de forma francamente contrária a qualquer possibilidade de avanço popular, só se encontra Uribe, em sua trajetória assassina, autoritária e criminosa.

As declarações de Ortega, ao contrário dessas do governo Uribe, não tiveram uma única contradição, nem mesmo qualquer tipo de conteúdo hipócrita.

Ortega criticou o fim da mediação de Chavez, que os familiares dos prisioneiros dizem que era bem sucedida, que os países de todo o mundo afirmam que era bem sucedida, que as FARC dizem que era bem sucedida, que os fatos demonstram que era bem sucedida. Ortega apontou o risco de “que se aproveitem do fato de Betancourt estar em meio à selva, para assassiná-la, apenas para poder culpar as FARC posteriormente”, risco que as FARC já denunciam, que grupos humanitários denunciam, que a família de Betancourt denuncia, que o caso da morte dos 11 deputados do Vale del Cauca comprova.

Na verdade, tudo que Ortega disse, é o mesmo que os governos da França, Espanha, Suécia, Brasil, Suíça, Bélgica, Argentina, Chile, Uruguai, insinuam, mas ainda não tiveram a coragem de expor de forma clara.

Quando assassinos contumazes tentam negar suas intenções homicidas, como faz o governo colombiano, quando um governo de um país sem soberania exige respeito à sua soberania, como faz o governo colombiano, quando aqueles que não respeitam a inteligência alheia, nem os mais elementares conceitos de humanidade, exigem respeito, é mais do que momento para se preocupar ao extremo.

A Colômbia reclama a atenção e o cuidado de todo o mundo, para evitar que a ânsia belicosa de Uribe e seus asseclas provoquem tragédias ainda maiores e o aprofundamento do sofrimento daquele povo tão maltratado nesses mais de 40 anos de conflito.

Lula e a Negação do Passado e da Realidade














A presidente Lula segue em sua luta para se livrar do passado popular, de sindicalista, de defensor dos trabalhadores, apelando até para a negação da realidade numa exaltação da exceção.

Há pouquíssimo tempo, quadrilhas foram desbaratadas em todo o país, que se dedicavam a dar alta a pacientes que estavam afastados pelo SUS, recebendo o auxílio doença, para que as empresas tivessem o trabalhador em atividade novamente, ainda que sem plenas condições, permitindo que fosse mandado embora tão logo fosse possível. Outros apenas negavam o afastamento, fazendo o trabalhador continuar trabalhando sem condições, ou permitindo sua demissão quando deveria estar afastado e com direito à estabilidade na seqüência. Sempre casos de médicos que recebiam suborno das empresas e sindicatos patronais para preparar tais laudos periciais.

Outros casos foram de denúncias de médicos que estavam sendo intimidados para fornecer laudos que permitissem o retorno do trabalhador à atividade, ou impedissem seu afastamento, ainda que ele precisasse afastar-se do emprego.

Qualquer trabalhador que já tenha atuado em sindicato, em comissões de prevenção de acidentes, ou tenha necessitado de mais de um afastamento em sua vida laboral, conhece essa regra existente e jamais combatida de fato, com a qual os trabalhadores são obrigados a viver.

Mas para o presidente Lula não, para ele os vilões são os malditos trabalhadores, que buscam o auxílio doença sem necessidade e ficam bravos quando são obrigados a voltar ao trabalho.

O mais interessante, é observar tal posicionamento do ex-sindicalista arrependido, logo depois de ter acompanhado, nas últimas semanas, 7 casos de pessoas que receberam a liberação dos peritos credenciados da previdência, para retornarem ao trabalho, mesmo sem condições reais.

Lula fez questão de usar um caso específico, como exemplo para generalizar um padrão de comportamento do trabalhador, lembrando que “Eu conheci um companheiro que chegou a se internar num hospital psiquiátrico para receber o benefício”.

Para qualquer trabalhador assalariado, de setores onde o esforço físico ou os acidentes são comuns, ou mesmo de qualquer grande empresa, é fácil perceber que tal exemplo é a exceção, até mesmo porque o afastamento representa períodos de atraso na remuneração, perda de benefícios, redução da renda, etc.. Mas como o Lula não se deu ao trabalho de apontar mais dados, argumentos, ou casos, também não vou me dar a esse trabalho, me limitando a citar um caso e generalizá-lo.

Imaginem que um trabalhador, cujo trabalho se dá sobre uma motocicleta, sofre um acidente com a mesma, sofre uma fratura no tornozelo que necessita da utilização de gesso por mais de 60 dias. Imagine que esse trabalhador retira o gesso e passa por 30 dias de fisioterapia para recuperar os movimentos, mas tem receitado mais 45 dias. Mas esse trabalhador, apesar de seu médico solicitar mais 45 dias de afastamento, recebe a liberação do perito do INSS.

Agora imagine que esse trabalhador, mesmo sem conseguir movimentar o pé e a perna de forma completa, é obrigado a pilotar uma motocicleta em serviço, ou permanecer por horas seguidas, em ponto fixo, de pé, sem qualquer apoio.

Se você conseguiu imaginar, perdeu seu tempo, afinal não é necessário imaginação, pois o caso é real. E mais do que isso, verificando os processos na justiça do trabalho em que a empresa na qual o trabalhador em questão é funcionário, verifica-se que os sócios desse “perito” em questão, são auxiliares técnicos da empresa em vários dos processos trabalhistas.

O que podemos dizer de tal trabalhador, que desejava permanecer mais esses 45 dias em afastamento, sob cuidados médicos, recebendo o auxílio acidente, mesmo tendo uma significativa perda de rendimentos? Para o Lula, trata-se de um caso simples, pois que “É uma coisa fantástica. Tudo o que a gente quer é ficar bom. Mas no caso de determinados benefícios a pessoa não quer”.

Mais uma vez, vemos que o nosso presidente busca desesperadamente renegar seu passado de defensor dos trabalhadores, de sindicalista, agradar ao empresariado mais atrasado e alinhar-se ao gosto da elite que sempre controlou nosso país.

Agora, mais do que nos tempos em que a tradicional aristocracia brasileira governou nosso país, o trabalhador é o vilão, culpado de todos os males.

Nem mesmo vou me dar ao trabalho de comparar tal afirmação do presidente, com o fato de o mesmo ser aposentado em razão da perda de um dedo. Também não vou renegar tudo que já afirmei sobre a questão, pois não tenho a mesma vocação de Lula. Mas que ficará mais difícil, daqui pra frente, defender o direito de Lula à aposentadoria em razão de tal acidente, isso é evidente. Mas, para a sorte dele, ainda existe quem defenda os trabalhadores, mesmo os traidores, contra os ataques hipócritas, demagógicos e mentirosos como os dele.

Mesmo os traidores merecem defesa contra a lei da chibata e da máxima exploração. Mesmo os traidores merecem proteção contra a lógica do ser humano descartável. O trabalhador ainda busca respeito.