domingo, 2 de março de 2008

Uribe pode ter assassinado Ingrid Bettancourt.

Como todos sabem, as FARC, por questões de logística e segurança dos prisioneiros, procuram separá-los, não mantendo jamais um cativeiro único.

No que se refere à segurança, tal prática se intensificou depois que Uribe, com o assassinato dos 11 deputados do Valle del Cauca, deixou claro que pretende matar todos os prisioneiros para não ter mais qualquer empecilho para o desenvolvimento de sua política terrorista.

Ingrid era, sem dúvida, a prisioneira mais visada, tanto pela repercussão internacional sobre seu caso, como pelas pretensões de Uribe em obter um terceiro mandato, objetivo que poderia se tornar impraticável caso Ingrid fosse libertada e decidisse candidatar-se novamente.

Esse posicionamento de Uribe tornou-se mais claro com as sua recusas em aceitar que as FARC fizessem a libertação, mesmo unilateral, dos prisioneiros, no que tentaram, de todas as formas, impedir a operação Emmanuel, por meio de intensivas operações militares e a intensificação dos habituais bombardeios.

Em razão desses fatores, aliado ao interesse direto de Uribe em ver Ingrid morta, a prisioneira franco-colombiana, conforme relatam os próprios ex-prisioneiros, foi levada para um cativeiro distinto daqueles mais numerosos, em companhia, talvez, de mais um ou dois prisioneiros cuja vida interessa menos a Uribe.

Apesar do caráter itinerante de todos os acampamentos, característica tanto de acampamentos quanto do movimento de guerrilhas, alguns deles se destacam em segurança em razão da natureza de suas atividades não armadas.

Nesse sentido, podemos destacar dois pontos de maior segurança das FARC, que seriam a frente de Marulanda, no Bloco Ocidental, por ser o acampamento sede dos mais numerosos encontros de membros do Estado Maior da guerrilha. De outro lado, a Frente de Reyes, que se destinava às relações internacionais e, não raro, recebia autoridades nacionais, internacionais, veículos de comunicação, dentre outros.

Por certo, o local de maior freqüência de reuniões entre membros do secretariado, inclusive por razões de sobrevivência da organização, não se destinaria a albergar prisioneiros. Assim restaria como local seguro para Ingrid o acampamento de Reyes. Com quem notoriamente Ingrid teve contato por várias vezes.

Vários outros elementos apontam na mesma direção.

Ingrid, segundo contam ex-prisioneiros, estaria bastante debilitada. E a razão de seu frágil estado de saúde seria relacionado a uma profunda depressão, por acreditar que jamais seria libertada, visto as informações sobre a forma como Uribe trata as tentativas de negociação, que ela receberia diariamente.

Sabidamente, o responsável por tais tentativas de estabelecimento de um diálogo seria justamente Reyes. E Ingrid, para ter acesso diário às informações, seria necessário que estivesse no mesmo acampamento em que as informações circulavam diretamente.

Outro fator geográfico alimenta essa quase certeza de que Ingrid estaria no mesmo acampamento que Reyes, pois que por segurança, seria necessário que se estivesse com a mesma em região próxima à fronteira de país cuja orientação do governo não seja a de extermínio de lideranças políticas insurgentes, que favoreçam a saída política para o conflito.

Evidentemente, os países cujas fronteiras teriam tais características seriam Brasil, Venezuela e Equador.

Dentre esses três países, necessário observar que o único cuja fronteira oferece condições de circulação pelo lado colombiano é a do Equador.

Ao norte, com a Venezuela, a região e de controle dos paras, com forte influência das forças armadas e a presença massiva de traficantes, o que torna quase impossível uma circulação segura com prisioneiros pela região.

Já na fronteira com o Brasil, o transporte de drogas é intenso, fazendo com que as FARC tenham inúmeras limitações para evitar combates desnecessários.

Já o sul da Colômbia é área hegemônica das FARC, a única região em que se pode garantir uma maior segurança na circulação com uma prisioneira tão procurada, viva ou morta.

Assim, resta explicada a razão de tal ataque ao acampamento, sobretudo num momento em que Uribe sabia que enfrentaria forte reprovação internacional por seu ato.

Pelas declarações dos recém libertados, a libertação de Uribe era iminente. Portanto tornava-se necessário que Uribe agisse rapidamente exterminando Ingrid. E ao que tudo indica, o fez.

Nas próximas semanas, assim que as comunicações do lado popular tornarem a se ajustar, é quase certo que a notícia seja divulgada, no que Uribe tentará acusar as FARC de terem a matado como represália, o que seria ridículo, bem se sabe.

A essa hora, ao que tudo indica, parece que a possibilidade de paz pode ter morrido, junto com Reyes e Ingrid, cujos corpos foram levados por seus assasinos, segundo o terrorista J.M. Santos, “para evitar que tentassem recuperá-los”.

Raul Reyes, seu grito por justiça continua em nós


Nasceu em meio ao terrorismo. Morreu pelas mãos do terrorismo, sempre lutando por paz.

Foi uma vida dura, desde os tempos de trabalhador comum, nos tempos de sindicalista acostumado a ver seus companheiros assassinados por um Estado fascista, até a vida na selva como um dos homens mais procurados do mundo, apenas por lutar por justiça.

Reyes viu seu companheiro Jaime Pardo Leal, candidato presidencial, ser assassinado por esse mesmo Estado narco-terrorista. E isso foi na primeira tentativa unilateral de paz, quando as FARC deixaram as armas e buscaram atuar apenas politicamente. E Leal foi apenas um, dentre os mais de 5 mil, que foram assassinados. E o querido irmão Raúl Reyes escapou por pouco, por várias vezes, naquela ocasião.

Mataram seus amigos, seus irmãos, seus companheiros e camaradas. Mas não mataram em Reyes os sonhos de paz e justiça social.

Reyes foi o emissário da paz, em mais uma tentativa, no final da década de 1990. Viajou a Europa, buscou acordos, tentou a paz por todos os caminhos possíveis. Reyes assistiu, mais uma vez, o fracasso de seus sonhos de paz.

Nosso querido irmão agora era a voz que clamava por paz. Era a voz que dizia ao assassino dos seus, de forma tão desprendida, que a paz era necessária, que o diálogo não só era possível, como era a única alternativa.

Reyes, após ser a voz que tanto gritava por paz, após ser a voz que tanto anunciou a libertação de prisioneiros, os atos unilaterais em busca de paz, foi a voz que se buscou calar através das bombas e dos tiros, disparados covardemente do alto de aeronaves, típico daqueles que praticam seus crimes escondidos atrás de confortáveis escritórios de luxo.

Reyes foi vítima não só dos criminosos que sacrificam o povo colombiano há mais de 60 anos. O querido irmão Raúl Reyes também foi vítima de sua incessante luta pela paz.

Mas as bombas e tiros que lhe ceifaram tão covardemente a vida, não tiveram a capacidade de calar sua voz, que se faz e fará ouvir em todo o tempo e em todos os lugares em que a injustiça imperar.

Querido amigo e irmão Raúl Reyes, sua luta, seu exemplo, sua voz, continuarão sempre vivos, eternamente em nós.

Não desta tua vida em vão. A liberdade com que sonhaste será realidade. E sua voz ecoará ainda mais e mais, em cada dia, em cada hora, em que nossa luta continuar.

Camarada Raul Reyes! Presente!