Ontem, minha querida e amada Curitiba completou seus 315 anos.
Eu passei apressado pelo local da comemoração oficial, desviando da fila que aguardava por um pedaço de bolo, observando, apesar da pressa, os detalhes daquela cena.
A partir da cena do ato oficial de comemoração, fiquei pensando sobre o que comemorar nessa data.
Nas filas gigantescas, à espera de um pedaço de bolo, eu vi pessoas de razoável aparência, com vestimentas razoáveis, feições não muito sofridas. Mas ao redor da fila, vi mães maltrapilhas, estampando o cansaço e o sofrimento nas faces, enquanto seguravam seus filhos de colo nos braços, numa cena desoladora. Ao redor, crianças com roupas sujas e rasgadas, olhando para tudo com um ar de perplexidade. Traço comum e marcante naquelas mães e crianças, era o olhar faminto com que fitavam os pedaços de bolo nas mãos dos outros.
Não sei se por ato de alguma autoridade, ou se apenas por um sentimento de exclusão provocado pela presença de autoridades e “gente tão fina”, mas eles simplesmente não tomaram parte na festa, não tendo direito sequer a um pedaço daquele bolo. Talvez depois que os outros comeram tudo o que queriam, tenha sobrado algo para esses curitibanos de “segunda classe”.
Nas extremidades da praça, sede da primeira universidade do país, alguns carrinheiros, apoiados em seu instrumento de trabalho, olhavam para a cena como se a não compreendessem. E realmente, acredito, não a compreendiam.
Nas escadarias da universidade, cercada por equipamentos de iluminação e de som, além de tendas, um coral de crianças entoava algumas músicas que eu jamais tinha ouvido. E ao mesmo tempo, um locutor com um som muitas vezes mais potente que o das crianças, anunciava que eram alunos de escolas municipais, ao mesmo tempo em que anunciava os 315 “gloriosos” anos dessa cidade.
As crianças, apesar das músicas que eu jamais ouvira, até que cantavam bem. Mas ninguém estava a lhes dar a mínima atenção.
O que pude notar, é que para aqueles carrinheiros, para aquelas mães pobres, para aquelas crianças que nem sabiam que podiam comer o bolo, não havia o que comemorar. Aquelas crianças correndo, apesar da vontade de comer, apenas não procuravam seu pedaço de bolo, pelo hábito de não terem direito a nada, de saberem que pedir algo para comer era um ato reprovável.
E aquelas crianças que cantavam. Elas estavam ali apenas para simbolizar a participação do povo da periferia. E o fizeram muito bem, pois por mais que cantassem, ninguém lhes dava atenção, assim como fazem com o seu povo, que por mais que gritem, não são ouvidos efetivamente por ninguém.
O que estavam a comemorar? Será que comemoravam o fato de os moradores da Vila Audi terem conseguido preparar sua sopa de papelão por mais essa noite? Ou estavam a festejar o povo das moradias Barigüi que esperam por uma creche? Ou seria a falta de escola no Tatuquara?
Seria talvez a comemoração dos trabalhadores da empresa municipal de urbanização, por seus salários próximos ao mínimo, enquanto assistem alguns de seus chefes receberem até 16 mil mensais para gastarem seu horário de trabalho no salão de beleza? Ou seriam os 45 concursados da companhia de desenvolvimento, por seus mais de 200 chefes comissionados com altos salários?
Talvez fosse a comemoração daquele assessor do meu prefeito do PSDB comemorando o salário de sua sogra, funcionária fantasma da Assembléia Legislativa, cujos rendimentos somaram mais de 500 mil reais, que ele prometeu repor, com um dinheiro que poucos sabem, mas sairá dos cofres públicos também.
Será que naquela praça estava Dalton Trevisan, para tão melhor mal dizer aquela festa da hipocrisia?
Talvez fosse o prefeito a comemorar o fim do circuito de bares alternativos, dos ambientes culturais populares, do boteco de meia dose, ao tempo em que florescem os recantos da elite, da juventude alienada.
Não sei ao certo. Mas sei que, diante da visível miséria de meu povo, do massacre contra a cultura de minha cidade, da repressão às expressões populares, da falta de comida na mesa de meus irmãos, do superfaturamento de obras, das profundas desigualdades sociais e dos meus irmãos que ocupam ares irregulares apenas esperando quando a guarda municipal irá despejá-los com o uso das armas, pouco ou nada pude comemorar.
O que comemoravam eles então?
Eu passei apressado pelo local da comemoração oficial, desviando da fila que aguardava por um pedaço de bolo, observando, apesar da pressa, os detalhes daquela cena.
A partir da cena do ato oficial de comemoração, fiquei pensando sobre o que comemorar nessa data.
Nas filas gigantescas, à espera de um pedaço de bolo, eu vi pessoas de razoável aparência, com vestimentas razoáveis, feições não muito sofridas. Mas ao redor da fila, vi mães maltrapilhas, estampando o cansaço e o sofrimento nas faces, enquanto seguravam seus filhos de colo nos braços, numa cena desoladora. Ao redor, crianças com roupas sujas e rasgadas, olhando para tudo com um ar de perplexidade. Traço comum e marcante naquelas mães e crianças, era o olhar faminto com que fitavam os pedaços de bolo nas mãos dos outros.
Não sei se por ato de alguma autoridade, ou se apenas por um sentimento de exclusão provocado pela presença de autoridades e “gente tão fina”, mas eles simplesmente não tomaram parte na festa, não tendo direito sequer a um pedaço daquele bolo. Talvez depois que os outros comeram tudo o que queriam, tenha sobrado algo para esses curitibanos de “segunda classe”.
Nas extremidades da praça, sede da primeira universidade do país, alguns carrinheiros, apoiados em seu instrumento de trabalho, olhavam para a cena como se a não compreendessem. E realmente, acredito, não a compreendiam.
Nas escadarias da universidade, cercada por equipamentos de iluminação e de som, além de tendas, um coral de crianças entoava algumas músicas que eu jamais tinha ouvido. E ao mesmo tempo, um locutor com um som muitas vezes mais potente que o das crianças, anunciava que eram alunos de escolas municipais, ao mesmo tempo em que anunciava os 315 “gloriosos” anos dessa cidade.
As crianças, apesar das músicas que eu jamais ouvira, até que cantavam bem. Mas ninguém estava a lhes dar a mínima atenção.
O que pude notar, é que para aqueles carrinheiros, para aquelas mães pobres, para aquelas crianças que nem sabiam que podiam comer o bolo, não havia o que comemorar. Aquelas crianças correndo, apesar da vontade de comer, apenas não procuravam seu pedaço de bolo, pelo hábito de não terem direito a nada, de saberem que pedir algo para comer era um ato reprovável.
E aquelas crianças que cantavam. Elas estavam ali apenas para simbolizar a participação do povo da periferia. E o fizeram muito bem, pois por mais que cantassem, ninguém lhes dava atenção, assim como fazem com o seu povo, que por mais que gritem, não são ouvidos efetivamente por ninguém.
O que estavam a comemorar? Será que comemoravam o fato de os moradores da Vila Audi terem conseguido preparar sua sopa de papelão por mais essa noite? Ou estavam a festejar o povo das moradias Barigüi que esperam por uma creche? Ou seria a falta de escola no Tatuquara?
Seria talvez a comemoração dos trabalhadores da empresa municipal de urbanização, por seus salários próximos ao mínimo, enquanto assistem alguns de seus chefes receberem até 16 mil mensais para gastarem seu horário de trabalho no salão de beleza? Ou seriam os 45 concursados da companhia de desenvolvimento, por seus mais de 200 chefes comissionados com altos salários?
Talvez fosse a comemoração daquele assessor do meu prefeito do PSDB comemorando o salário de sua sogra, funcionária fantasma da Assembléia Legislativa, cujos rendimentos somaram mais de 500 mil reais, que ele prometeu repor, com um dinheiro que poucos sabem, mas sairá dos cofres públicos também.
Será que naquela praça estava Dalton Trevisan, para tão melhor mal dizer aquela festa da hipocrisia?
Talvez fosse o prefeito a comemorar o fim do circuito de bares alternativos, dos ambientes culturais populares, do boteco de meia dose, ao tempo em que florescem os recantos da elite, da juventude alienada.
Não sei ao certo. Mas sei que, diante da visível miséria de meu povo, do massacre contra a cultura de minha cidade, da repressão às expressões populares, da falta de comida na mesa de meus irmãos, do superfaturamento de obras, das profundas desigualdades sociais e dos meus irmãos que ocupam ares irregulares apenas esperando quando a guarda municipal irá despejá-los com o uso das armas, pouco ou nada pude comemorar.
O que comemoravam eles então?
2 comentários:
admiro muito seu blog amigo..
o acompanho há um bom tempo...pode-se dizer 1 ano e meio
São caras como voce que fazem a diferença...
continue na luta irmão !!!
forte abraço
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