sábado, 15 de setembro de 2007

Mulheres Não Guardam Segredos

- Então, você vai comigo pegar o carro?
- Claro, vamos lá.

E fomos, não sem antes eu pedir aos que já estavam a caminho do bar para juntarem várias mesas, pois outros amigos nossos estavam a caminho também.

Chagamos ao carro, um rápido e cuidadoso olhar ao redor, seguido de um beijo às escondidas. Ninguém sabia, nem poderia saber que estávamos tendo um caso. Não por algum motivo especial, apenas não podiam saber, sei lá o “por quê”.

Pegamos o carro e seguimos em direção ao bar. Lá estavam nossos amigos reunidos numa longa mesa, com alguns lugares ainda sobrando, aguardando outros tantos que viriam. E lá estava também aquela colega que há muito tenta alguma coisa comigo.

Sentamos-nos um pouco distantes, para não dar chance a interpretações indesejadas por nós. E começamos a beber e a conversar.

Eu, como sempre, obriguei-me a entrar em alguma polêmica, salvo engano, sobre política, tema pouco recorrente em minhas conversas. E evidente, numa conversa com amigos que somente conhecem algo de política, muito a contra gosto, pelas páginas da revista semanal e pelas cenas do Jornal Nacional, o embate entre análise e senso comum é sempre uma bela e radical polêmica de botequim.

Papo vai, papo vem, aquela coleguinha com segundas intenções aproveita a oportunidade para pedir explicações mais detalhadas sobre o que eu estava falando. Ao seu lado, claro.

E agora, o que fazer? A minha “coleguinha”, minha “amiga secreta” está aqui, ao meu lado, mas eu não posso dizer nada a respeito para evitar ir até a outra “coleguinha sacana. Também não posso aceitar o convite e sentar-me ao lado da outra, deixando a “minha coleguinha” de lado, sob pena de perder o acesso aos encantos seus.

- Não, eu explico daqui mesmo.
- Ai, por quê? Senta aqui do meu lado, vai. Me explica isso melhor.
- Sim, eu explico daqui mesmo.
- Ué, pode sentar aqui do meu lado, eu não mordo. Pelo menos, se você não quiser.

Eu dou um sorriso um tanto constrangido.

- Não eu quero ficar aqui.
- Por quê? Não pode sentar do meu lado? Tem medo de mulher?
- Não é isso. Inclusive eu estou sentado do lado de outra mulher.
-Ah, eu to achando que você tem medo de mulher. Eu to achando que você é gay. Você é gay, não é?

Ela indaga em tom provocativo.

- Sim, eu sou gay. Por que, algum problema com isso? Algum preconceito?

Eu respondo com absoluta segurança, em tom desafiador, com os olhos ameaçadores e fixos nela.

- Não, nenhum problema, nenhum preconceito, pelo contrário. Desculpe.

Todos me olharam disfarçadamente por alguns instantes, procurando não manifestar nenhum juízo. E enfim, eu tive paz, sem sofrer mais nenhum tipo de pressão naquela noite, ao menos na mesa do bar.

Olho para o outro lado, para minha acompanhante secreta. Ela parece nem ter ouvido nada, continuando outro assunto com o pessoal que estava do outro lado da mesa. E eu volto às discussões políticas.

Já com algumas boas cervejas tomadas, “minha coleguinha” me olha e fala em irmos embora, ao pé do ouvido, no que eu entendo perfeitamente que o problema de mascarar o fato de estarmos saindo juntos não tem nada a ver.

Ela se levanta e vai se despedindo de todos. Eu, rapidamente pergunto: “você me dá uma carona?”. E ela responde afirmativamente. Assim, vou me despedindo de todos também.

Ela me pede para dirigir, o que é um bom sinal. Logo após partirmos, ela me olha e pergunta:

- Ei, aquele papo lá no bar era lenda né? Você estava só de conversa, não? Você não é gay coisa nenhuma.

Eu fixo os olhos nela por alguns instantes, com um olhar bastante irônico, enquanto ela parece começar a ficar um tanto apreensiva. E respondo:

- Não sei. Acho que você precisa testar. Vamos lá?

Mesmo antes de poder ouvir resposta eu mudo o caminho para local em que o teste poderá ser mais, digamos, completo.

Durante uma semana fui bastante assediado por mulheres que estiveram naquela mesa de bar e por outras que com elas tiveram contato. Parecia que eu havia me tornado uma espécie de desafio, um troféu, todas querendo resgatar minha masculinidade, mudar minha suposta orientação homossexual. Foi muito bom aquilo.

Mas finda uma semana, aproximam-se de mim em três, incluída aquela se “segundas intenções” e, antes de dizer ao menos um “oi”, já sentenciaram:

- Você não é gay coisa nenhuma! Você é um mentiroso, isso sim.
- Quem disse isso?
- Ah, não venha querer mentir mais pra gente porque nós já estamos sabendo de tudo!
- Tudo o que?
- Tudo, oras. Sabemos o que você anda aprontando.
- Eu aprontando?
- Não se faça de cínico!
-Está bem, está bem.

Como além daquela “minha coleguinha” eu havia tido alguns outros casos às escondidas anteriormente em círculos próximos, até hoje eu não sei se elas se referiam àquela “minha coleguinha”, a outra anterior, a todas elas ou algumas delas.

A única conclusão a que eu chego é a de que as mulheres não sabem manter um segredo.

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