terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Berzoini: O Capitão do Mato do PT

Para os trabalhadores rurais, os escravos, os que vivem em regime de semi-escravidão, os estudiosos da história, a figura do capitão do mato é bastante conhecida. Trata-se do responsável por fazer o "trabalho sujo" do patrão, para que o mesmo não precise se envolver no sangue derramado, nem com o constrangimento de levar o sofrimento aos seus subordinados.

Em diversos outros ramos de atividades temos figuras semelhantes. É o policial bandido que espanca o suspeito para arrancar-lhe as informações sobre outros membros do bando, o chefeta da empresa responsável por aterrorizar empregados para manter a disciplina, o braço direito do traficante que promove os julgamentos sumários e execuções a sangue frio.

Na política não é diferente, existindo os tarefeiros que executam o trabalho sujo para evitar que o nome do “patrão” seja envolvido na sujeira ocasionada pelos atos que julga necessário. No governo Lula e no PT, muitos foram os candidatos, mas Lula elegeu o seu capitão do mato predileto, que hoje ocupa reeleito a presidência do partido.

Berzoini foi o “homem forte” escolhido para representar o terror junto à população durante sua estada no governo. Na Previdência, diante de um desejo urgente do governo por redução nas despesas, foi Berzoini que protagonizou o caso do “recadastramento” dos mais idosos, que levou pessoas com mais de 90 anos às filas intermináveis do INSS, a fim de não terem seu mirrado sustento cortado.

Esse caso, como foi demonstrado na prática posterior, era completamente desnecessário, pois esse recadastramento poderia ser feito de diversas outras formas, como foi efetivamente feito depois. Mas a sutileza das atitudes nunca foi a marca registrada de um capitão do mato.

Tratava-se, naquela ocasião, de obter não somente um recadastramento e acabar com as fraudes que tanto sangram os cofres da previdência, mas de uma medida urgente com a finalidade de reduzir despesas e possibilitar a realocação de recursos para a remuneração da especulação com títulos da dívida pública. Os especuladores tinham pressa em ver seu lucro garantido da maneira mais generosa possível, tendo o governo igual pressa em atender-lhes a vontade. Assim, o capitão do mato atuou da forma mais rude e espalhafatosa possível, em método clássico de sua atividade, só não obtendo sucesso em razão de seu ato ter afetado a imagem do patrão. Mas o trabalho foi levado adiante de outra forma.

Os trabalhos sujos do governo ainda não haviam acabado. Portanto Berzoini continuava sendo indispensável. E lá foi o capitão do mato transferido para o Ministério do Trabalho, com a finalidade de empurrar goela abaixo dos trabalhadores as reformas trabalhista e sindical, tão sonhadas pelos patrões e tentadas pelo governo tucano. O capitão do mato não obteve o resultado final, mas deixou o trabalho iniciado e os subordinados devidamente instruídos para seguirem com a obra, que continua em andamento, inclusive com a proposta de restrição do direito de greve ao funcionalismo, encomendada à AGU.

A onda de denúncias contra o governo estoura de forma inimaginável, abalando fortemente o PT. Tarso Genro é escalado para recolocar a casa em ordem, mas lá chegando resolveu questionar muitas coisas, acabar com práticas há muito consolidadas. Seus objetivos nem eram tão bons assim, mas já era o suficiente para afetar certos interesses e certas figuras. Então Tarso não servia, era necessário alguém que não questionasse. Era necessário o capitão do mato.

Berzoini assumiu a presidência do PT com a missão de manter intocável a estrutura real de poder dentro do partido, não permitir nenhuma mudança estrutural, impedir o crescimento de grupos críticos à mudança ideológica da legenda e garantir toda a política de acordos e alianças firmadas para a manutenção dos aparelhos governamentais.

Pode-se dizer que o capitão do mato fez um trabalho perfeito dessa vez. Sob suas ordens, o PT não fez uma única concessão à esquerda, promoveu uma aceleração em sua caminhada à direita, aumentou a política de aproximação com a direita clássica em vários aspectos, manteve a estrutura interna de poder sem qualquer alteração. É importante observar que nesse desenrolar, o capitão do mato obteve extremo êxito em evitar que fosse feita qualquer apuração interna acerca dos fatos e responsáveis por conduzirem o partido à situação que gerou toda a crise.

Agora o PT precisa caminhar a passos largos para se consolidar como um partido tradicional, de características fisiológicas, da estrutura política brasileira, que em nosso sistema tanto favorece a disputa pelos aparelhos de poder. E para isso é preciso barrar, nem que seja à força, qualquer movimentação que vise o resgate de um aparente espírito popular que o partido teve outrora. E para tal missão ninguém melhor do que o capitão do mato.

E nesse rumo, a estrutura de poder real do partido conseguiu, com muito esforço, compra de apoios, filiações em massa, garantir a manutenção de seu tarefeiro mais fiel no comando formal da máquina. E com a manutenção da administração da fazenda nas mãos do capitão do mato, o patrão pode ficar mais tranqüilo, enquanto seus subordinados perdem todas as esperanças de alcançarem, ainda dentro dessa estrutura, um futuro melhor ou o resgate de suas antigas bandeiras.

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