Além disso, a Colômbia, há muito, é dirigida pelo narcotráfico, como ficou comprovado pelas ligações de vários de seus presidentes e altos comandantes militares com os cartéis de Cali e Medelin, inclusive do atual, Álvaro Uribe, que prestava valiosos serviços a Pablo Escobar, chegando a chamar Uribe de “seu preferido” e “indispensável”, conforme relatam diversos antigos colaboradores de Escobar e mesmo sua noiva, em livros, entrevistas e processos judiciais.
Como já é notória, a hipocrisia do governo colombiano começa pelo fato de buscar, através de um forte aparato de comunicação, dirigido por Washington, responsabilizar as FARC pelo narcotráfico que é dirigido de dentro da Casa de Nariño, o palácio presidencial do país.
Agora vemos mais uma cena dessa hipocrisia, na reação do governo colombiano às declarações do presidente nicaragüense, Daniel Ortega, a respeito dos prisioneiros em poder das FARC e da política Ingrid Betancourt.
Ortega fez críticas ao governo colombiano pela encerramento da bem sucedida mediação de Chavez nas negociações humanitárias, além de fazer um apelo às FARC, dirigindo-se a Manuel Marulanda, pela libertação de Betancourt. Ortega, ao dirigir-se a Marulanda teria dito “Quero fazer um apelo a nosso querido irmão, o comandante Manuel Marulanda, em nome dos revolucionários latino-americanos”.
A reação do governo colombiano foi bastante dura, exigindo que Ortega não interferisse em assuntos internos da Colômbia, também condenando a “irmanação” com um “grupo terrorista”.
É interessante ver um país reivindicando respeito à sua soberania, ao mesmo tempo em que é controlado, de forma absoluta, por Washington, tanto militarmente, quanto politicamente. Talvez Uribe e os membros de seu governo devessem estudar um pouco sobre o tema da soberania, buscando entender o que significa, pois a Colômbia não possui soberania alguma.
Da mesma forma, é interessante observar um governo que apoiava a criação de grupos paramilitares que promoviam atentados a bomba, assassinatos e execuções de camponeses, extermínio de populações inteiras de pequenos povoados, condenando declarações amistosas de um presidente em relação a um grupo “terrorista”, que jamais promoveu ataques contra populações civis, ou mesmo atentados a bomba. Talvez, em verdade, Uribe esteja condenando os presidentes que declaram apoio ao seu governo.
A nota do governo colombiano lembra que as declarações partem do presidente de um país que já sofrera muito com a violência. E esse é um ponto central a se destacar, pois a violência na Nicarágua teve em Ortega um dos maiores lutadores pelo seu fim.
Alguém deveria lembrar a Uribe que Ortega e as FARC têm mesmo que se “irmanar”, pois são irmãos de luta, irmãos de sonhos, irmãos de objetivos. Lembrar a Uribe que a solidariedade entre os povos em luta, é a marca registrada daqueles que sonham e buscam um mundo melhor, mais justo, mais fraterno, mais igualitário.
Ortega foi um importante lutador, que combateu por longo tempo um regime autoritário e assassino, que se travestia de democrático, sob a direção e com o apoio, político e material dos Estados Unidos, assim como é o governo colombiano atual.
Não é preciso lembrar de que lado estão cada um dos governos latino-americanos, dentre os quais, de forma francamente contrária a qualquer possibilidade de avanço popular, só se encontra Uribe, em sua trajetória assassina, autoritária e criminosa.
As declarações de Ortega, ao contrário dessas do governo Uribe, não tiveram uma única contradição, nem mesmo qualquer tipo de conteúdo hipócrita.
Ortega criticou o fim da mediação de Chavez, que os familiares dos prisioneiros dizem que era bem sucedida, que os países de todo o mundo afirmam que era bem sucedida, que as FARC dizem que era bem sucedida, que os fatos demonstram que era bem sucedida. Ortega apontou o risco de “que se aproveitem do fato de Betancourt estar em meio à selva, para assassiná-la, apenas para poder culpar as FARC posteriormente”, risco que as FARC já denunciam, que grupos humanitários denunciam, que a família de Betancourt denuncia, que o caso da morte dos 11 deputados do Vale del Cauca comprova.
Na verdade, tudo que Ortega disse, é o mesmo que os governos da França, Espanha, Suécia, Brasil, Suíça, Bélgica, Argentina, Chile, Uruguai, insinuam, mas ainda não tiveram a coragem de expor de forma clara.
Quando assassinos contumazes tentam negar suas intenções homicidas, como faz o governo colombiano, quando um governo de um país sem soberania exige respeito à sua soberania, como faz o governo colombiano, quando aqueles que não respeitam a inteligência alheia, nem os mais elementares conceitos de humanidade, exigem respeito, é mais do que momento para se preocupar ao extremo.
A Colômbia reclama a atenção e o cuidado de todo o mundo, para evitar que a ânsia belicosa de Uribe e seus asseclas provoquem tragédias ainda maiores e o aprofundamento do sofrimento daquele povo tão maltratado nesses mais de 40 anos de conflito.
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