sábado, 15 de dezembro de 2007

Lula e a Negação do Passado e da Realidade














A presidente Lula segue em sua luta para se livrar do passado popular, de sindicalista, de defensor dos trabalhadores, apelando até para a negação da realidade numa exaltação da exceção.

Há pouquíssimo tempo, quadrilhas foram desbaratadas em todo o país, que se dedicavam a dar alta a pacientes que estavam afastados pelo SUS, recebendo o auxílio doença, para que as empresas tivessem o trabalhador em atividade novamente, ainda que sem plenas condições, permitindo que fosse mandado embora tão logo fosse possível. Outros apenas negavam o afastamento, fazendo o trabalhador continuar trabalhando sem condições, ou permitindo sua demissão quando deveria estar afastado e com direito à estabilidade na seqüência. Sempre casos de médicos que recebiam suborno das empresas e sindicatos patronais para preparar tais laudos periciais.

Outros casos foram de denúncias de médicos que estavam sendo intimidados para fornecer laudos que permitissem o retorno do trabalhador à atividade, ou impedissem seu afastamento, ainda que ele precisasse afastar-se do emprego.

Qualquer trabalhador que já tenha atuado em sindicato, em comissões de prevenção de acidentes, ou tenha necessitado de mais de um afastamento em sua vida laboral, conhece essa regra existente e jamais combatida de fato, com a qual os trabalhadores são obrigados a viver.

Mas para o presidente Lula não, para ele os vilões são os malditos trabalhadores, que buscam o auxílio doença sem necessidade e ficam bravos quando são obrigados a voltar ao trabalho.

O mais interessante, é observar tal posicionamento do ex-sindicalista arrependido, logo depois de ter acompanhado, nas últimas semanas, 7 casos de pessoas que receberam a liberação dos peritos credenciados da previdência, para retornarem ao trabalho, mesmo sem condições reais.

Lula fez questão de usar um caso específico, como exemplo para generalizar um padrão de comportamento do trabalhador, lembrando que “Eu conheci um companheiro que chegou a se internar num hospital psiquiátrico para receber o benefício”.

Para qualquer trabalhador assalariado, de setores onde o esforço físico ou os acidentes são comuns, ou mesmo de qualquer grande empresa, é fácil perceber que tal exemplo é a exceção, até mesmo porque o afastamento representa períodos de atraso na remuneração, perda de benefícios, redução da renda, etc.. Mas como o Lula não se deu ao trabalho de apontar mais dados, argumentos, ou casos, também não vou me dar a esse trabalho, me limitando a citar um caso e generalizá-lo.

Imaginem que um trabalhador, cujo trabalho se dá sobre uma motocicleta, sofre um acidente com a mesma, sofre uma fratura no tornozelo que necessita da utilização de gesso por mais de 60 dias. Imagine que esse trabalhador retira o gesso e passa por 30 dias de fisioterapia para recuperar os movimentos, mas tem receitado mais 45 dias. Mas esse trabalhador, apesar de seu médico solicitar mais 45 dias de afastamento, recebe a liberação do perito do INSS.

Agora imagine que esse trabalhador, mesmo sem conseguir movimentar o pé e a perna de forma completa, é obrigado a pilotar uma motocicleta em serviço, ou permanecer por horas seguidas, em ponto fixo, de pé, sem qualquer apoio.

Se você conseguiu imaginar, perdeu seu tempo, afinal não é necessário imaginação, pois o caso é real. E mais do que isso, verificando os processos na justiça do trabalho em que a empresa na qual o trabalhador em questão é funcionário, verifica-se que os sócios desse “perito” em questão, são auxiliares técnicos da empresa em vários dos processos trabalhistas.

O que podemos dizer de tal trabalhador, que desejava permanecer mais esses 45 dias em afastamento, sob cuidados médicos, recebendo o auxílio acidente, mesmo tendo uma significativa perda de rendimentos? Para o Lula, trata-se de um caso simples, pois que “É uma coisa fantástica. Tudo o que a gente quer é ficar bom. Mas no caso de determinados benefícios a pessoa não quer”.

Mais uma vez, vemos que o nosso presidente busca desesperadamente renegar seu passado de defensor dos trabalhadores, de sindicalista, agradar ao empresariado mais atrasado e alinhar-se ao gosto da elite que sempre controlou nosso país.

Agora, mais do que nos tempos em que a tradicional aristocracia brasileira governou nosso país, o trabalhador é o vilão, culpado de todos os males.

Nem mesmo vou me dar ao trabalho de comparar tal afirmação do presidente, com o fato de o mesmo ser aposentado em razão da perda de um dedo. Também não vou renegar tudo que já afirmei sobre a questão, pois não tenho a mesma vocação de Lula. Mas que ficará mais difícil, daqui pra frente, defender o direito de Lula à aposentadoria em razão de tal acidente, isso é evidente. Mas, para a sorte dele, ainda existe quem defenda os trabalhadores, mesmo os traidores, contra os ataques hipócritas, demagógicos e mentirosos como os dele.

Mesmo os traidores merecem defesa contra a lei da chibata e da máxima exploração. Mesmo os traidores merecem proteção contra a lógica do ser humano descartável. O trabalhador ainda busca respeito.

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