sábado, 22 de março de 2008

Um lacaio em busca de legitimação

Uribe segue a receita de confronto de Bush



Nada como um dia depois do outro: a reunião do Grupo do Rio, ocorrida na República Dominicana, em 07 de março, afastou o risco de guerra e evitou a ampliação de uma crise na América Latina, desencadeada pela violação das fronteiras do Equador por tropas colombianas em uma operação que resultou no massacre de um grupo das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e a morte de seu interlocutor internacional, o comandante Raul Reyes. A Organização dos Estados Americanos já havia condenado, dois dias antes, a agressão ao Equador, considerada “um desrespeito às leis internacionais”. Solidificam-se, desta forma, os governos do Equador e da Venezuela, cujos processos de desenvolvimento com justiça social e ampla participação da população vem ocorrendo nestes dois países, assim como a Bolívia.

Uribe isolou-se: além da maior parte dos veículos de imprensa burguesa, o presidente colombiano só encontrou guarida na Casa Branca. Até mesmo o presidente do México, Felipe Calderón (eleito em um
processo evidentemente fraudulento, e que só conseguiu assumir a presidência por pressão do departamento de Estado dos EUA) condenou a ação colombiana.

Mas o que quer Uribe? A guerra. Sua resistência à abertura de diálogo com as FARC na Colômbia pode trazer como resultado a internacionalização do conflito. Uribe se tornou um fator de instabilidade na América Latina, ao manter a política de confronto. Para manter seu projeto de poder – submisso, diga-se com todas as letras a verdade, aos EUA – Uribe não pode recuar desta estratégia pois ele se legitimou politicamente como o homem que resolveria a guerra civil. E, sem guerra civil, não haveria como justificar a presença militar norte-americana na Colômbia, a manutenção da censura à imprensa, a exclusão social e o poder das oligarquias colombianas. Tampouco haveria condições políticas para Uribe pleitear um terceiro mandato, já mencionado, no Congresso, no bojo de um processo de discussão,
em curso, sobre a possibilidade de reformar-se a Constituição do país.

A iniciativa das FARC de liberar reféns unilateralmente vai contra este projeto, num claro e pacífico aceno ao diálogo institucional. Quem não quer esse diálogo? Quem fez de tudo para que a operação de soltura dos reféns terminasse em fracasso? Quem dificulta as condições para a libertação de Ingrid Bettancourt, que, uma vez solta, poderia se candidatar à presidência da Colômbia com índices elevados de popularidade? A resposta é simples e direta: Uribe, representante das oligarquias e dos interesses
dos EUA.

A agressão ao Equador e às FARC foi uma clara provocação contra o intercâmbio humanitário e contra a possibilidade de paz na região. Uribe agrediu, num só ato, as FARC, o Equador e a Venezuela. Agrediu toda a América Latina, todos os que lutam por paz e justiça social.

A resposta dos povos

Mas não se consegue enganar a muitos por muito tempo: no ultimo dia 06 de março, milhares de pessoas se manifestaram em homenagem às vítimas dos crimes de Estado que imperam na Colômbia e contra a invasão do Equador por tropas deste país. As ruas de Bogotá estavam repletas. Estes milhares de manifestantes disseram claramente que desejam a paz. Desejam a inversão de um quadro de extrema violência que se instalou na Colômbia.

Entre 1982 e 2005, milhões de pessoas foram deslocadas de suas casas e de suas cidades pelo exército colombiano e pelas milícias de direita que o apóiam. Há milhares de colombianos desaparecidos, entre os quais se incluem índios, sindicalistas, parlamentares de esquerda, membros da União Patriótica. Muitos foram torturados antes de morrer. Recentemente, foi assassinado, em território venezuelano, um dirigente
da Juventude Comunista da Colômbia, a JUCO.

Há que relembrar-se que, neste período, mais de 6 milhões de hectares foram tomados dos camponeses. Muitos grupos armados de direita mantiveram-se ativos mesmo depois de sua desmobilização oficial, em 2002 (chamam-se, agora, “águias negras”). Muitos representantes destes grupos estão em cargos públicos.

A população colombiana e internacional desconhecia estes fatos até recentemente, dada a forte censura à
imprensa exercida pelo governo sobre os meios de comunicação daquele país. Mas o tiro de Uribe saiu pela culatra: a mobilização popular e a movimentação dos governos progressistas da América Latina vão isolar cada vez mais o regime fascista colombiano, abrindo caminho para a paz, o diálogo e o desenvolvimento com justiça social na Colômbia.

Um comentário:

Anônimo disse...

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